terça-feira, 26 de junho de 2007

Reconciliando pontos de vista conservadores e liberais

Pakoras - Figura 2
Pizzas - Figura 1


Pizzas ou Pakoras: Reconciliando pontos de vista conservadores e liberais
Por Braja Bihari Dasa – responsável pelo ministério de mediação da ISKCON
Tendo como base sua experiência na resolução de conflitos na Iskcon, Braja Bihari Dasa examina um dos fatores críticos de conflito — a divisão entre as posições conservadoras e liberais na compreensão e aplicação de um conjunto de ensinamentos compartilhado. Ele faz uso de diversos modelos para entendermos estes conflitos e a partir destes modelos ele elabora soluções que objetivam fazer com que os conflitos possam ser solucionados, quando apropriado, ou serem expostos e reconhecidos pelo seu potencial em formar a base de um dialogo produtivo e saudável.
Srila Prabhupada, o fundador da International Society for Krishna Consciousness (ISKCON), muitas vezes demonstrava seu interesse/preocupaçã o com relação a conflitos internos aflorando em sua crescente sociedade:
Temos tanto trabalho a fazer, não podemos perder nossa solidariedade. Não seja a causa de uma cisão devido a uma atitude de luta ou competição. Sempre que ouço sobre reclamações ou perturbações em nossos centros minha mente fica perturbada e não sou capaz de traduzir apropriadamente meus livros. Portanto por favor, poupem-me de tais perturbações cooperando todos juntos, irmãos e irmãs. (Srila Prabhupada carta para Malati, 7 de Janeiro 1974)
Vocês dedicaram sua vida a Krsna e portanto vocês devem procurar ser pessoas ideais. Estamos introduzindo o movimento para a consciência de Krsna para promover a harmonia e boa vontade da humanidade. Mas se vocês estão sofrendo das mesmas doenças que estamos tentando remover como podem as pessoas serem influenciadas favoravelmente? Parem com estas brigas, tolerem. (Srila Prabhupada carta para Trivikrama, 1 de Maio 1974)
Somente após exaurir toda e qualquer possibilidade de uma solução pacifica enfrentaremos alguém com animosidade. Assim como Krsna. Ele não clamou a batalha até que toda e qualquer chance de um apaziguamento houvesse falhado. (Srila Prabhupada carta para Balavanta, 13 de Dezembro 1972)
Este texto analisa algumas das causas de conflito na ISKCON, particularmente, como sugere o titulo; no âmbito dos pontos de vista conservador X liberal. A ISKCON deveria se prender à tradição tão proximamente quanto possível? Ou podemos a adaptar a consciência de Krsna à cultura circunstante quando apropriado? Podemos oferecer pizzas vegetarianas para Krsna? Ou devemos somente oferecer itens tradicionais tais como pakoras? Em sua conclusão este texto oferece um número de soluções para manter-nos alinhados ao desejo de Prabhupada pela cooperação no interno de sua sociedade.
Causas de conflito
Existem muitas causas de conflito. Em seu livro, O Processo de Mediação, Christopher Moore descreve as principais (pp. 64–5):
Conflitos de Valores: resultantes de diferentes grupos adotarem critérios diferentes para avaliar idéias, ou devido a estilos de vida, ideologias ou religiões diferentes.
Conflitos de Relacionamentos: resultantes de emoções fortes, percepções distorcidas, comunicação deficiente, e de interações negativas constantes.
Conflitos de Informação: resultantes da falta de informação, interpretações diversificas da informação, e diferentes pontos de vista sobre o que é relevante.
Conflitos de Interesse: resultantes da competição por interesses substanciais, processuais (de procedimentos) ou psicológicos.
Conflitos Estruturais: resultantes de padrões de comportamento destrutivos, desigualdade no controle e posse de recursos, desigualdade de poder e autoridade, restrições de tempo, e fatores geográficos e ambientais que interfiram na cooperação.
Moore sugere intervenções a serem feitas em cada uma dessas fontes de conflito para promover a conciliação. Como mencionado por Arnold Zack em um artigo para o ISKCON Communications Journal (Vol. 10), as organizações do mundo todo estão reconhecendo a necessidade de se dialogar sobre estes conflitos, e estão encontrando resultados promissores em sua experiência com sistema ‘ADR’, Resoluções Alternativas de Conflitos. O senhor Zack descreve os procedimentos que a ISKCON adotou para iniciar um programa de mediação de casos de conflito no interno da organização. Não há necessidade de repetir seu detalhado artigo, mas gostaria de explorar em maior detalhe a atuação dos conflitos junto a organizações religiosas e, é claro, especificamente à ISKCON, e ainda mais especificamente como os conflitos agem na questão dos pontos de vista liberais e conservadores na ISKCON.
Em seu livro Administrando Conflitos Congregacionais, Managing Church Conflict, Hugh F. Halverstadt adiciona três causas de conflito particulares a ambientes de igreja (p. 2). à lista de Moore. De particular interesse nesta discussão se encontra o primeiro ponto de Halverstadt: Conflitos congregacionais são intensos porque conectamos a eles nossa fé e compromisso.
Ele escreve:
O mais relevante é que nossas identidades primordiais são postas em risco quando ocorrem conflitos em igrejas. Compromissos espirituais e compreensões da fé são enormemente suscetíveis a conflitos porque representam um dos pontos centrais da identidade psicológica do individuo. Quando cristãos diferem a respeito de suas crenças ou compromissos, podem vir a questionar, ou mesmo condenar, o caráter ou espiritualidade uns dos outros. É sua auto estima que está em xeque. (Halverstadt, p. 2)
Talvez em proporção ainda maior que o praticante cristão, os membros da ISKCON também fazem sacrifícios e mudanças comportamentais quando aderem à consciência de Krsna. Eles mudam a forma como se alimentam, dormem, se vestem, e falam; eles desenvolvem novas amizades e freqüentemente rejeitam as antigas; e desenvolvem uma nova serie de aspirações. Para se tornar devotos eles também adotam uma perspectiva da vida drasticamente diferente daquela na qual eles foram criados. Investem muito de si próprio em se tornarem devotos de Krsna. É por isto que quando aspectos de sua identidade como ser são questionados por alguém com um ponto de vista diferente – especialmente por alguém em seus próprios escalões — o conflito tende a ocorrer.
Existem um sem numero de fatores que influenciam a aceitação da consciência de Krsna por parte de um devoto. A primeira é a diversidade cultural. Existem templos da ISKCON em 103 países, e apesar que consigam manter uma uniformidade teológica e de práticas básicas, a cultura hospedeira em si inevitavelmente introduz também muita variedade. Prabhupada dá a entender isto em um de seus comentários: ‘Um candidato à consciência de Krsna nos paises ocidentais também deve ser instruído a respeito da renuncia à existência material, mas o professor instruiria o mesmo a candidatos de um país como a Índia de forma diferente. O professor (acarya) tem de considerar tempo, candidato e país.’ (Sri Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 23.105, significado) Outras diferenças significativas na forma de aceitação da consciência de Krsna são resultantes do treinamento inicial dos devotos, de seu nível de avanço espiritual, de seus purva-samskaras (impressões mentais de vidas anteriores), assim como de seu condicionamento nesta vida, seu status socioeconômico, sua capacidade intelectual, sua escolha de amigos, seus hábitos, etc. Portanto, apesar de que todos são membros da ISKCON, existe variedade em como os membros percebem, experimentam, ensinam e praticam a consciência de Krsna.
Compreender como esta variedade se manifesta é uma ferramenta essencial para analisar os conflitos da ISKCON e ser capaz de lidar com a confusão que estes conflitos criam. Srila Prabhupada apreciava citar o ditado sânscrito, atmavan manyate jagat, ‘Eu penso assim então o mundo todo também tem que pensar da mesma forma’. Ross e Ward da Stanford University nos fornecem um mapeamento detalhado de um conceito parecido (pp. 110–11). Eles cunharam a expressão ‘realismo ingênuo’, e descrevem o conceito como se segue:
1o que vejo os seres e eventos tais como são em sua realidade objetiva, e que minhas atitudes sociais, crenças, preferências, prioridades, e conceitos similares, resultam de uma compreensão minha relativamente não apaixonada, não ‘inclinada’ a favor de minha cultura, e essencialmente ‘imparcial’ das informações e evidencias disponíveis.
2o que outros indivíduos observadores sociais geralmente irão compartilhar minhas reações, atitudes e opiniões—contanto que tenham tido acesso à mesma informação que deu vazão a meus pontos de vista, e contanto que eles também tenham processado esta informação de forma razoavelmente reflexiva e com uma mente aberta.
3o que a falha de um individuo ou grupo em particular em compartilhar meus pontos de vista só pode surgir de uma de três possíveis fontes:
O individuo ou grupo em questão pode ter sido exposto a uma amostra diferente de informação a que eu fui (neste caso, contanto que o outro seja razoável e tenha uma mente aberta, a troca ou união de informações deveria nos levar a alcançar um acordo).
O individuo ou grupo em questão talvez tenha preguiça, seja irracional ou esteja de alguma outra forma incapacitado, ou talvez tenha má-vontade para proceder de forma normal da evidencia objetiva a uma conclusão razoável; e finalmente:
O individuo ou grupo em questão pode ter uma inclinação natural (seja na interpretação da evidência ou no proceder da evidencia às respectivas conclusões) por ideologia, interesse próprio, ou alguma outra influencia pessoal que deturpe sua compreensão imparcial.
Pessoalmente prefiro a expressão ‘realismo subjetivo’ a ‘realismo ingênuo’ que considero mais pejorativo; pois para mim, ‘ingênuo’ tende a fazer esta síndrome soar indesejável. Ao invés disto, creio que pensar nestes formatos é algo natural — está claro que estas influencias estão freqüentemente agindo na maior parte das vidas das pessoas — isto só se torna indesejável quando não reconhecemos sua acão em nós e nas outras pessoas. De fato se analisarmos as cinco causas de conflito listadas por Moore, é razoável dizer que o realismo subjetivo pode ter um papel influenciador em todas elas. Vemos o mundo diferentemente uns dos outros, e freqüentemente estamos dispostos a entrar em uma disputa devido a isto. Membros da ISKCON não são exceção.
É importante esclarecer que quando aplico estas considerações no âmbito da ISKCON, não estou inferindo que as verdades espirituais padrões mencionadas no sastra (escritura) Vaisnava estejam abertas a uma reinterpretaçã o subjetiva. Claramente a ISKCON possui uma teologia padrão a qual todos seus membros devem aderir se desejam ser considerados membros. Similarmente, Srila Prabhupada estabeleceu certos padrões incontrovertí veis, incluindo os votos de iniciação (nenhum sexo ilícito, nenhum tipo de aposta com a sorte e o azar, nenhuma intoxicação, e nenhum comer de carne peixe ou ovos, assim como a promessa de cantar pelo menos dezesseis voltas do maha-mantra Hare Krsna todo dia). De fato estes compromissos mantidos por todos os devotos da ISKCON são parte do que é essencial e serão discutidos posteriormente como possíveis meios de superar as diferenças. .
Portanto, apesar de que fiz uso dos termos ‘conservador’e ‘liberal’, deve ficar claro que (1) estes termos são usados com relação às praticas não essenciais. Sendo que com respeito a estas práticas essenciais todos os grupos concordariam, tendo como base a teologia essencial professada pela ISKCON, e (2) que estes termos são utilizados especificamente em relação às práticas da ISKCON (mesmo os devotos ‘liberais’ seriam normalmente considerados altamente conservadores pelos padrões Ocidentais atuais).
Mesmo assim, dentro desta definição estreita ainda há suficiente espaço para a relevância, interpretação, e compreensões individuais baseadas na inspiração espiritual, nas considerações práticas e materiais, e em uma combinação de ambas. Os conflitos derivados destas diferenças surgem quando são acesos pelo realismo subjetivo e fomentados pela era em que vivemos.
A cultura da discórdia e a Kali-yuga
O sastra (a escritura) Vaisnava repetidamente explica que estamos agora vivendo na era de Kali, do conflito. Este é um momento no qual as pessoas muito facilmente entram em conflito. Apesar de que os conflitos sejam inevitáveis nesta era, a forma como uma organização ou pessoa lida com eles pontua a diferença entre a habilidade desta pessoa de se superar ou simplesmente seguir adiante de forma trôpega. Organizações espirituais, apesar de terem como objetivo agirem como reservatórios da paz, não estão a salvo desta influencia. Na realidade, devido a todas as razões listadas acima e a outras, grupos religiosos possuem longas historias de conflito. Mesmo uma instituição relativamente nova tal como a ISKCON já desenvolveu um histórico de conflito. Em seu livro, A Cultura da Discussão, Deborah Tannen explica como esta tendência ao conflito esta afetando a sociedade contemporânea: ‘. . . os conflitos podem as vezes ser solucionados sem se fazer uso de táticas de confronto, mas a sabedoria convencional dos nossos tempos freqüentemente desvaloriza táticas menos agressivas , mesmo que sejam funcionais, e favorece estratégias mais agressivas, mesmo que os resultados sejam menos favoráveis. É como se valorizássemos uma briga pelo puro prazer de brigar, e não pela sua eficiência em solucionar uma disputa’ (p. 23).
O inicio da Kali Yuga parece exemplificar esta tendência. No Srimad-Bhagavatam temos a historia de Srngi. Srngi era um filho não qualificado de um brahmana, que amaldiçou o grande rei devoto Pariksit a morrer no prazo de sete dias devido a uma aparente ofensa por parte do rei ao seu pai (de Srngi) A aparente ofensa ocorreu quando o pai, não ofereceu uma recepção apropriada ao rei. Enquanto que este evento em particular é visto como um arranjo do Senhor com o propósito de promover a exposição oral do Srimad-Bhagavatam, também está dito que a influencia de Kali-yuga iniciou quando Srngi escolheu uma estratégia agressiva mesmo quando outras alternativas estavam certamente disponíveis.
Kali também influencia de outra forma substancial: desestruturando a hierarquia de autoridade. Tannen escreve em seu livro Sibling Society, Sociedade de Crianças, que “os cidadãos atuais são como crianças pequenas sem figuras de autoridade que possam transmitir suficiente respeito para conter e canalizar seus impulsos agressivos. É como se todo dia fosse um dia com um professor substituto que não consegue controlar a classe e manter a ordem’ (Tannen, p. 25). Quando me uni a ISKCON em 1977, a autoridade da estrutura hierárquica ainda estava forte e firmemente intacta. Após a partida de Srila Prabhupada naquele ano, e as subseqüentes dificuldades centralizadas em decisões questionáveis da liderança e falhas morais por parte de alguns dos renunciantes, a autoridade da estrutura hierárquica enfraqueceu consideravelmente. A historia ainda nos irá revelar em que grau esta estrutura enfraquecida vai conseguir sobreviver na ISKCON. Algumas pessoas dizem que a ISKCON está indo relativamente bem em seu intuito de manter o Comitê do Corpo Governamental intacto, mas, no presente, a ISKCON com certeza sofre da ‘síndrome do professor substituto’. Com um declínio da autoridade, as varias opiniões proliferam, infleizmente juntamente com a crença que uma opinião não é melhor que qualquer outra. A carência de uma autoridade bem estabelecida encoraja o realismo subjetivo a correr solto, resultando no final em mais desavenças.
O meio afeta a mensagem
A hierarquia da autoridade também é enfraquecida pelo advento da facilidade com a qual se publica livros hoje em dia, e pela internet. Anteriormente se alguém desejasse publicar um livro, ele ou ela teria de convencer um editor da ISKCON de seu valor literário—freqü entemente uma tarefa hercúlea. Agora qualquer um com uma idéia, um computador, uma impressora, e um pequeno investimento pode publicar um livro.
Sites na Web, com sua característica de ‘qualquer um pode dizer qualquer coisa’, são ainda mais fáceis de se criar. É um fato que muitas das desavenças que ocorrem na ISKCON existem apenas virtualmente, no ciberespaço. Os devotos envolvidos talvez sequer se conheçam pessoalmente. A internet nos conectou de muitas formas antes nem pensadas. Também estendeu a influencia tanto do realismo subjetivo e da Kali-yuga além de quaisquer fronteiras: as pessoas agora podem enviar e-mails para centenas de caixas postais ao redor de todo o mundo em questão de segundos.
Além disto se aceitarmos a estatística popular que 10% de toda comunicação se baseia no que falamos, 30% em como falamos, e que os 60% finais são revelados pela nossa linguagem corporal, então o e-mail claramente não é uma ferramenta eficiente para debater tópicos que possuem componentes emocionais e filosóficos. O e-mail é muito útil para sabermos quando buscar alguém no aeroporto ou para outros afazeres inócuos, mas não é um meio adequado para lidar com desacordos de longa data.
Por exemplo: recentemente o Comitê Executivo do Corpo Governamental da ISKCON (GBC) foi convocado para dar seu juízo a respeito de uma polemica que envolvia a alegação de má conduta de um lider regional. Mais de 1000 e-mails foram trocados sobre o assunto com pouco progresso mas com muita comunicação malinterpretada e alguns sentimentos de mágoa. Percebendo que o e-mail não estava trazendo o problema para mais próximo de uma solução, o Dirigente do Comitê Executivo convocou uma reunião dos grupos envolvidos. Dentro de pouco tempo os problemas foram solucionados para a satisfação de todos. Enquanto que é verdade que a reunião foi muito mais custosa em termos de tempo e despesas de viagem e que os e-mails em quase nada haviam onerado a sociedade, ainda assim, a reunião face a face se mostrou muito mais eficiente para alcançar uma solução. Também parece claro no entanto que o e-mail vai continuar a alimentar os conflitos da ISKCON, apesar de seus efeitos geralmente negativos.
Um outro problema tecnológico no interno da ISKCON é o Vedabase, uma compilação auto-indexada de todos os escritos, cartas e conversações transcritas de Srila Prabhupada. Apesar desta ser uma ferramenta fantástica para um pesquisador ou um viajante que não queira ou não possa carregar livros (todos os livros cabem em um DVD ), por outro lado também apresenta um lado negativo.
O prefácio do Vedabase adverte: ‘O Bhaktivedanta Vedabase é uma ferramenta poderosa, e como todas as ferramentas pode ser bem ou mal usada. Bem usada pode nos ajudar a descobrir, compilar, e esclarecer muitos dos ensinamentos que as escrituras e Srila Prabhupada nos deram. Mal usada pode nos ajudar a compilar falsas evidências, argumentos falaciosos, e conclusões errôneas’. Mais do que freqüentemente os devotos se voltam à informação contida no Vedabase de uma forma pré-programada, e então usam o Vedabase para encontrar citações que confirmem seus pontos de vista preconceituosos. Ao invés de tentar compreender as afirmações de Prabhupada e como elas se encaixam em correlação a suas outras afirmações e às conclusões escriturais parece ser que muitas pessoas somente se voltam ao Vedabase para se suprir de munição para derrotar alguma outra pessoa.
Dicas para discussão em grupo:
- ler o texto e selecionar de um a três pontos que mais chamaram a atenção e apresentar para o grupo possíveis reflexões ou duvidas
- fazer alguma pesquisa mais especifica sobre algum ponto
- simplesmente ler o texto e participar na próxima semana
- encontrar ou se lembrar de versos ou significados de Srila Prabhupada que tenham relação com o que achou mais interessante
- contar algum passatempo pessoal ou de alguém que exemplifique algum ponto
- etc...
Conservador e liberal
Hoje em dia na ISKCON as causas de conflito mencionadas na primeira parte deste artigo são facilmente verificáveis na variedade de conflitos entre os partidos conservador e o liberal. Há um número alto de assuntos que são afetados por esta dicotomia conservador/ liberal, dentre os quais: - o papel das mulheres - as relações da ISKCON com o mundo secular em toda sua amplitude - abordagens nas atividades missionárias - a utilidade do dialogo interreligioso - o quanto da cultura regional tradicional pode ser absorvido, etc.
Correndo o risco da generalização, listo abaixo uma breve sinopse dos diferentes pontos de vista: os liberais assumem uma abordagem igualitária no que diz respeito ao papel das mulheres na sociedade, tendo por base as qualidades inerentes de toda alma no plano espiritual. Eles acreditam que a ISKCON necessita ter relevância para o mundo ‘externo’ e que podemos aprender muito também dos outros. Deveríamos portanto ser criativos em nossas atividades missionárias, ajustando-as ao tempo, lugar e circunstância. Eles também sentem que a troca de informação e vivencias que ocorrem no dialogo interreligioso são úteis para a ISKCON assim como para os outros participantes do dialogo, e que ao mesmo tempo que as tradições culturais sejam importantes, são também secundarias a princípios espirituais mais elevados . Implementar uma cultura tradicional na ISKCON, dizem eles, deve ser feito cuidadosamente, mesmo porque tentativas anteriores foram imaturas e deixaram cicatrizes naqueles que fizeram parte da experiência.
Os conservadores abordam o papel das mulheres na sociedade como complementar: as mulheres tem um papel distinto centrado nas funções de esposa e mãe, e de forma alguma competem com os homens. Os conservadores acreditam que deveríamos dar o que temos ao mundo externo mas que há pouco que podemos aproveitar. Crêem que enquanto que podem ser feitos ajustes culturais para levar adiante atividades missionárias externas, já possuimos uma cultura perfeita, ainda que não totalmente implementada no momento; necessitamos sim apenas executar nossos ensinamentos com fé. Os conservadores crêem que deveríamos ficar ‘com um pé atrás’ no que diz respeito ao dialogo interreligioso; afinal de contas, já temos a verdade e outros deveriam aprende-la de nós. Eles crêem que temos pouco o que receber dos outros. Temos apenas que pregar e servir de exemplos vivos da cultura védica, que é gloriosa — supremamente. Quanto mais próximos estivermos de segui-la, mais felizes seremos, assim como aqueles que entrarem em contato conosco.
Ambos os grupos presentes tiram evidencia dos sastras, assim como exemplos da aplicação prática destes conceitos por Srila Prabhupada pessoalmente, para substanciar e comprovar seus respectivos pontos de vista. Pode ser que em alguns casos, baseados nos sastras, um grupo esteja certo e o outro errado, mas até o presente momento dentro da ISKCON, nem a posição liberal ou a conservadora se estabeleceu como dominante, e nem é provável que isto aconteça num futuro próximo. Nos debates em curso ambos continuam a citar passagens legitimas e tentam conectar estas passagens à instituição atual.
Um exemplo: a polemica que gira entorno ao papel da mulher dentro da ISKCON
Qual é papel das mulheres na ISKCON? As mulheres podem assumir papeis de liderança? Podem ser gurus? Ou deveriam elas atuar somente um papel complementar ao dos homens como esposas e mães piedosas protegidas/amparada s por seus pais na juventude, seus esposos no casamento e seus filhos crescidos na meia idade? Muito do conteúdo deste conflito está centrado na ciência hermenêutica: isto é depende de sobre como a ISKCON deveria interpretar as escrituras e os comentários de Prabhupada a respeito delas. O que constitui um principio espiritual imutável? E o que constitui um detalhe, uma tentativa de aplicar um principio que pode ser mudado de acordo com o momento e as circunstancias? As considerações culturais de varnasrama são um principio ou um detalhe? O que deve ser feito quando dois grupos dão ênfase a princípios diferentes e aparentemente opostos?
Igualitários enfatizam a unidade de todas as almas e que as diferenças corpóreas são de importância secundaria. Bhakti, a devoção amorosa a Krsna, é uma função da alma; nada tem a ver com o corpo externo onde a pessoa esteja habitando. Homens não são homens eternamente e as mulheres não são mulheres eternamente. Igualitários acreditam que deveríamos ser suficientemente evoluídos para ‘sairmos do conceito corpóreo da vida’ e respeitarmos uns aos outros como almas e como servos eternos de Krsna. Deveríamos ser cuidadosos para não permitir que conceitos mundanos adentrem uma sociedade espiritual. Igualitários citam passagens das cartas e escritos de Prabhupada tais como:
Com respeito a devotas darem palestras: Já lhes informei que no serviço ao Senhor não há distinção de casta, credo, cor ou sexo. (Srila Prabhupada carta para Jayagovinda, 8 de Fevereiro 1968)
As vezes pessoas invejosas [da India] criticam o movimento para a consciência de Krsna porque este ocupa igualmente ambos homens e mulheres na distribuição de amor à Suprema Personalidade de Deus. Não sabendo que homens e mulheres em paises tais como a Europa e América se misturam livremente, estes tolos e patifes criticam os rapazes e moças na consciência da Krsna por interagirem. Mas estes patifes deveriam considerar que uma pessoa não pode repentinamente mudar os costumes sociais de uma comunidade. Entretanto sendo que ambos homens e mulheres estão sendo treinados para se tornarem pregadores estas mulheres não são mulheres comuns mas são tão boas quanto seus irmãos que estão pregando a consciência de Krsna. Portanto é um principio que um pregador deva estritamente seguir as regras e regulações estabelecidas nos sastras porém ao mesmo tempo deve desenvolver meios pelos quais o trabalho missionário de clamar aos que estão caídos possa prosseguir com força total. (Sri Caitanya-caritamrta, Adi-lila 7.38, significado)
Os ‘complementaristas’ protestam contra a crescente aceitação de uma abordagem feminista dentro da ISKCON. Os conservadores temem que um paradigma materialista de esquerda/oposiçã o, que exerça um fluxo contrario aos objetivos estatutários da ISKCON, se infiltre. A ISKCON, que tem por base uma cultura ancestral, está, dizem os conservadores, sendo influenciada por considerações materialistas modernas que correm em direção contrária ao ideal varnasrama que a ISKCON tem por propósito estabelecer. Enquanto eles certamente aceitam o ponto filosófico que ‘nós não somos estes corpos’, os conservadores sustentam que as normas sociais de varnasrama são um veiculo importante para atingir a plataforma espiritual. Eles consideram o varnasrama como sendo a base cultural sobre a qual a cultura Vaisnava será construída. Os conservadores acreditam também que sem o apoio deste modelo social Vaisnava, iremos por ‘default’ abraçar a cultura ocidental do hedonismo, uma cultura que não irá nos apoiar em nossas aspirações espirituais. Para apoiar seus pontos de vista também citam as escrituras.
Alguns exemplos são:
Uma mulher casta não deveria ser cobiçosa, mas pelo contrario deve estar satisfeita em todas as circunstancias. Ela deve ser muito capaz na lida dos afazeres domiciliares e deve se alinhar aos princípios religiosos. Ela deveria falar agradavelmente e de forma verdadeira, deve ser sempre muito cuidadosa e sempre limpa e pura. Desta forma uma mulher casta deveria se engajar com afeto no serviço a um esposo que não esteja caído. (Srimad-Bhagavatam 7.11.38)
As mulheres precisam ser protegidas pelos homens. Ela deve ser cuidada por seu pai na sua infância, pelo seu esposo na sua juventude e por seus filhos adultos na sua velhice. (Srimad-Bhagavatam 6.18.42, significado)
O papel das mulheres é uma questão proeminente. Se esta questão for considerada com interesse, respeito, e atenção suficiente sua resolução pode fornecer um grande impulso no sentido dar aos membros da ISKCON confiança em sua habilidade de ir além das diferenças e trabalhar cooperativamente.
Pizza ou pakoras?
Em seu artigo `Conflitos em meio a Grupos: O efeito do entrelaçamento’ (p. 247), Ron Kraybill apresenta duas congregrações de diferentes igrejas. Em uma igreja vários membros concordam com uma pessoa sobre uma questão e com outra pessoa sobre outra questão (observem a fig. 1). Sobre um assunto, A, B, C, e D concordam; sobre outro ponto A, B, F, e E concordam; e ainda com respeito a um terceiro ponto A, B, G, e H concordam. Em outra igreja os membros votam de acordo com diretrizes estabelecidas por diferentes grupos partidários consistentemente se alinhando com as mesmas pessoas (observem a fig. 2). Kraybill argumenta que a primeira igreja paradoxicalmente recebe de braços abertos os desacordos, pois estes são abordados forma respeitosa e resultam em uma maior aproximação das pessoas entre si. A segunda igreja geralmente evita o conflito mas quando este surge os membros se polarizam, e isto acaba se degenerando em politicagem, desconfiança, pontos de vista mal compreendidos, e finalmente pode levar a uma cisão em potencial.
Fig. 1 Pizzas
Fig. 2 Pakoras
Apresentei estes diagramas em uma palestra entitulada ‘Pizza ou Pakoras’ proferida em Julho de 2004 na convenção Européia da ISKCON. Ao observar o diagrama, alguém na audiência disse: ‘A Igreja número um parece com uma pizza, já a igreja número dois se parece com duas pakoras, mas qual dos diagramas melhor representa a ISKCON?’ Eu não tinha a intenção de ter estes diagramas conectado ao titulo de minha palestra, e a metáfora na verdade não é tão perfeita, mas me fez começar a pensar sobre a pergunta: Com qual das duas igrejas a ISKCON contemporânea mais se assemelha?
Minha analise, que está baseada em minha vivencia dentro do coração da ISKCON de Vrndavana, India, e nos meus afazeres diários na lida com questões polemicas da ISKCON, desde que assumi o cargo de diretor do Ministério de Resolução de Conflitos da ISKCON, é que os cenários de ambas as igrejas acima coexistem dentro da ISKCON. Entretanto devido à diversidade encontrada dentro da ISKCON, seus membros tendem a inclinar-se em direção à situação apresentada no caso da igreja número um, mas que a minoria entrincheirada na dinâmica liberal/conservador da igreja número dois acaba naturalmente verbalizando mais suas respectivas posições. As pessoas da igreja um, de acordo com Kraybill, já lidam com o conflito de formas saudáveis. A questão continua sendo como a ISKCON pode ajudar a sua própria ‘igreja dois’, composta de liberais e conservadores, a lidarem um com o outro de formas mutuamente satisfatórias e benéficas?

Soluções
Maior dialogo
Nos dias atuais, conservadores e liberais com freqüência se comunicam entre seus próprios correligionários, porém, de suas respectivas partes, não aplicam muito tempo no dialogo construtivo com os devotos do lado oposto do espectro.Inevitavel mente isto leva a mal entendidos ou compreensões errôneas com respeito aos pontos de vista uns dos outros, especialmente, e mais preocupante, no que tem relação com os motivos que possam existir por tas destes pontos de vista . Posições são estabelecidas e atacadas. Uma polarização ocorre e as posições se enrijecem. A comunicação ‘sem fio’ é abundante. Ataques ‘ad-hominem’ — uma ferramenta de grande efeito para alimentar o conflito e desencorajar a cooperação—não são raros de ocorrer.
O dialogo pode ser apresentado de forma tal que possa ser uma grande ajuda para melhorar esta situação. Um dialogo bem estruturado – em conjunto com uma assistência por parte de um terceiro partido neutro — esclarece as intenções e as pontos de vista . Os grupos tem a oportunidade de ouvirem uns aos outros respeitosamente. Sem abandonar suas próprias posições, eles tentam então tentam, compreender um ao outro. O dialogo separa as questões reais daquelas apenas percebidas e diminui a falta de confiança e os temores compartilhados entres os grupos/partidos. Uma de-demonização ocorre, e a atmosfera então se torna conducente há comunicações empáticas.
No caso dos conservadores e liberais da ISKCON, alguns passos estão sendo dados nesta direção de uma conferencia via e-mail que foca em incentivar o dialogo. Devido a que a ISKCON é uma organização internacional e que o dialogo ‘in loco’ não é sempre possível entre os partidos em disputa, nos concedemos a organização de uma conferencia de e-mail, apesar de conhecermos os riscos. O GBC também pediu que os partidos situados em ambos os lados da questão concernente às mulheres, a participarem no dialogo em curso, para buscar resoluções possíveis para estas questões contenciosas, e então enviarem um relatório a respeito ao GBC’. Quando apropriadamente estabelecido o dialogo é uma ferramenta poderosa para os devotos da ISKCON. Na ISKCON faz parte da aprendizagem primaria aprender a respeitar todos sem em troca exigir respeito para si. Tem sido minha experiência que o dialogo torna-se fácil quando os grupos em disputa praticam a humildade Vaisnava.
O dialogo, como passo inicial, é essencial, e freqüentemente pode levar a tomadas de decisões tangíveis. Jennifer Lynch cunha o termo ‘D2D’ (do dialogo à decisão). É freqüente que através do dialogo sincero os grupos divergentes cheguem a conclusões por si próprios no que diz respeito a como melhor proceder considerando as questões que estão sendo apresentadas. Isto pode certamente acontecer nos vários assuntos abordados pelos grupos liberais e conservadores da ISKCON. Indo além, é minha sugestão à liderança da ISKCON que analise a idéia de permitir que a variedade de posicionamentos no que diz respeito a algum tópico especifico seja abarcada como um posicionamento oficial da própria ISKCON. Como Prabhupada certa vez afirmou ao escrever para um membro do GBC:
Se mantivermos Krsna no centro então irá ocorrer um acordo na variedade. Isto se chama de unidade na diversidade. Estou portanto sugerindo que todos nossos devotos se encontrem em Mayapur todo ano durante o aniversario do nascimento do Lord Caitanya. Com todos os GBCs e devotos seniores presentes deveríamos debater sobre como criar a unidade na diversidade. Mas se discutirmos devido à diversidade então isto representa que estamos simplesmente na plataforma material. Por favor tente manter a filosofia da unidade na diversidade. Isto irá fazer nosso movimento bem sucedido. (Srila Prabhupada carta a Kirtanananda, 18 de Outubro, 1973)
Muito do conflito e politicagem que ocorre entre liberais e conservadores na ISKCON é devido a uma compreensão não oficializada que a ISKCON aceitará apenas umponto de visto com respeito há algum assunto em particular. Talvez muita da energia gasta enquanto cada grupo tenta estabelecer seu ponto de vista como a visão correta poderia ser melhor utilizada em promover os propósitos principais da ISKCON — se tornar consciente de Krsna e auxiliar os outros a fazer o mesmo — e em conviver com a diversidade em muitas das questões menos importantes ou não tão centrais. Ao oferecer esta sugestão percebo que abrimos espaço para mais uma questão polemica: O que é uma questão realmente importante ou central e o que não é? Ainda assim também sugiro que lidar com esta questão em si é mais fácil do que com as diferenças que a circundam.

Abordagem sistemática
Desde o artigo de Arnold Zack publicado na ultima edição da ISKCON Communications Journal, o trabalho do ministério alternativo de resolução de conflitos da ISKCON tem estado se desenvolvendo e está se movendo em direção ao que está sendo chamado um Sistema Integrado de Administração de Conflitos (ICMS sigla em inglês). A ISKCON ‘Resolve’, e a ISKCON ICMS, oferecem uma variedade de serviços aos devotos da ISKCON, que incluem a mediação, o dialogo, arbitragem, analise de conflitos, e um serviço de ombuds. A ISKCONResolve oferece estas diferentes opções para que os devotos possam abordar suas preocupações, reclamações, conflitos, e sugestões de formas positivas e efetivas. Além de facilitar os debates existentes provê conservadores e liberais com meios positivos e efetivos de serem compreendidos e ouvidos uns pelos outros e pela liderança da ISKCON. Tannen conclui, ‘Há vezes quando precisamos discordar, criticar, nos opor, e atacar — para manter debates e ver questões como batalhas entre dois diferentes pólos. Até mesmo a cooperação, no fim das contas não é a ausência do conflito mas um meio de administrar o conflito. Meu objetivo não é fazer um elogio apaziguador mas falso da concordância ou em outras palavras do perigoso ignorar de uma oposição real. Estou questionando o uso automático de formatações de como lidar com questões adversárias —o pressuposto que é sempre melhor se dirigir aos problemas e questões brigando por elas. Estou esperando um repertorio mais amplo de falarmos uns com os outros e abordarmos questões vitais para nos.’ (p. 26) A ISKCONResolve é uma tentativa de oferecer este repertorio mais amplo a seus membros.
Parte da abordagem sistemática de conflitos é o ‘desenvolvimento de capacidades’ (Schirch), treinar os membros de uma organização nos métodos alternativos de se lidar com conflitos. A ISKCONResolve já treinou mais de quatrocentos devotos da ISKCON em mediação. Este é um começo, mas agora estamos desenvolvendo um pequeno seminário que será disponibilizado a um numero muito maior de membros. Este curso mais curto vai prover as habilidades e a teoria básica necessária para que os indivíduos abordem os conflitos que surgirem em suas vidas. O seminário também vai incluir maneiras pelas quais eles possam aproveitar os serviços que o ISKCONResolve tem para oferecer. Um curso também está sendo desenvolvido para uso em escolas e escolas dominicais afiliadas à ISKCON.
Outra aspecto essencial de uma abordagem sistemática é o retorno. A cooperação e a paz sustentáveis não são facilmente obtidas. Os contendores freqüentemente experimentam satisfação no dialogo e na mediação, mas se desapontam quando as mudanças de fato se mostram irrisórias (Kraybill p. 69). Freqüentemente nos subestimamos a quantidade de trabalho necessário para resolver uma disputa. As decisões precisam ser testadas e a comunicação checada. A ISKCONResolve tenta dar retorno há um caso por quanto tempo for necessário.
Um retorno à essência
Em Maio de 2004 fui convidado para falar na escola dominical na igreja Mennonita de Park View em Harrisonburg, Virginia. Antes de minha fala participei do sermão proferido por Phil Kniss, o pastor da igreja. Ele falou sobre uma dissidência significativa no interno da igreja Mennonita. Tenho de admitir que fiquei surpreso ao ouvir sobre esta dissidência porque os Mennonitas são famosos por seu interesse e sua habilidade de conjurar a paz. Portanto ouvi atentamente Kniss alertar que a congregação deveria se precaver com respeito a soluções tipo ‘conserto rápido’ e de rostos sorridentes que ignorassem as profundidades a que este conflito havia se aprofundado. Ele argumentou que no papel de uma Igreja eles tinham o dever para com Deus de não lidar apenas superficialmente com esta crise mas de buscar as raízes de sua fé em Jesus e encontrar uma solução espiritual:
Quero sugerir, correndo o risco de ser o portador de más novas, que se tudo o que fizermos for ajudar que uma igreja cheia de pessoas diferentes sejam amigáveis, lidem bem uns com os outros, e não briguem muito, então estamos simplesmente fazendo da igreja nada mais que um educado clube social da vizinhança. E nos contentamos com um substituto barato para uma comunidade cristã.(Kniss p. 4)
No final ele prescreveu a transcendência do conflito através do canto em louvor ao Senhor: ‘. . . se uma verdadeira unidade na igreja será jamais alcançada, irá ocorrer quando nos unirmos e cantarmos’ (Kniss p. 10). Pude me identificar com isto. Seu sermão acendeu meus pensamentos sobre a ISKCON e a necessidade de transcender nossas diferenças nos absorvendo em atividades que nos unem: nossa devoção a Krsna que demonstramos através do canto, da dança, do festejar, adorar, estudar e prestarmos serviço juntos. Estas atividades não só nos aproximam, elas são a essência do serviço devocional e de acordo com todos os sastras Vaisnavas, o meio mais efetivo de limpar nossos corações e fazer deles locais adequados para receber o darshan e as instruções de Krsna. Estas são práticas superiores (praticas sobre as quais todos podemos concordar e trabalhar juntos para perfaze-las) , isto irá levar à meta superior de fazer da ISKCON uma sociedade pura e atrativa de devotos dedicados. Enfatizando estas formas positivas de nos associarmos uns com os outros naturalmente desenvolvemos nossa habilidade de transformar os conflitos e colocamos as diferenças que temos uns com os outros na perspectiva apropriada. Técnicas, sistemas, e treinamento são importantes na resolução de nossos conflitos, mas deveriam estar conectados ao próprio propósito transformacional da ISKCON. Sem dúvida conservadores e liberais vão continuar tendo suas diferenças, mas tenho esperança que por aplicar as formas acima mencionadas de abordagem destas diferenças que seus conflitos irão fortalecer a ISKCON. E assim como os guerreiros do Mahabharata que lutavam contra o inimigo durante o dia e se socializam entre si a noite, que os conservadores e liberais da ISKCON irão continuar a divergir e então se reunirão a noite para cantar Hare Krsna, dançar no kirtana, e festejar com Krsna prasadam—pizza e pakoras.