"Assim como o ar transporta os aromas, a entidade viva no mundo material leva de um corpo para outro suas diferentes concepções de vida. Com isto, a entidade viva aceita uma espécie de corpo e ao abandoná-lo volta a aceitar outro."
"A entidade viva, ao aceitar outro corpo grosseiro, obtém um certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tacto, que se agrupam ao redor da mente. A entidade viva então desfruta um conjunto específico de objectos dos sentidos."
(Bhagavad-gītā 15.8,9)
Nós "construímos" o nosso próximo corpo.
É um corpo formado a partir de nossos desejos. O que nós desejamos, nós obtemos.
O próximo corpo será material se a consciência e os desejos forem materiais.
O próximo corpo será espiritual se a consciência e os desejos forem espirituais.
Assim como o vento carrega os aromas para diferentes lugares, o Jīva condicionado é transportado para a próxima existência pelo corpo subtil material, que é constituído da mente e dos sentidos e que carrega as impressões e desejos adquiridos em várias vidas para desta forma cumprir-se o Karma.
No entanto, se a consciência for espiritual e o praticante alcançou Prema, esta transferência não é feita pelo corpo subtil material. O corpo grosseiro material e o corpo subtil material já não influenciam o Jīva. Neste caso, o Jīva aceita uma forma, um corpo espiritual com o qual irá servir eternamente.
Da mesma forma que a identidade dos corpos físico e subtil é criada por uma combinação de desejos materiais e impressões acumulados ao longo de várias vidas, ao aplicar o mesmo princípio a identidade do corpo espiritual é criada pela força dos nossos desejos espirituais e impressões que se manifestam durante o engajamento em Rāgānugā-sādhana-bhakti.
Em que relacionamento (Rasa) desejamos servir? Que serviço (Sevā) eterno desejamos executar? Em que parte do Dhāma desejamos viver (Nivāsa)? Qual associado desejamos seguir (Yūtha)? Com que vestimenta (Veśa) desejamos servir? Etc.
Tudo isto deve ser cultivado durante a fase de prática (Sādhana), pois só alcançamos na fase perfeita o que cultivamos na fase de prática. E é exatamente por isso que todos estes detalhes estão descritos no Śāstra devocional. Esta é uma das características exclusivas do nosso processo. O processo da Consciência de Kṛṣṇa mostra todos os detalhes de como é o mundo espiritual para que tudo isto possa ser almejado e desejado.
Esperar por Kṛpā-siddhi não é recomendado por Śrīla Prabhupāda e nem pelos Ācāryas. Kṛpā-siddhi é muito raro. Kṛpā-siddhi é quando o devoto(a) alcança seu corpo espiritual sem ter cultivado estes desejos. É muito raro. E mesmo em Kṛpā-siddhi não é Kṛṣṇa que impõe um relacionamento.
Kṛṣṇa não impõe a maneira como quer ser servido. O devoto(a) é quem escolhe como quer servi-Lo.
Alguém poderá afirmar: "Eu sirvo Kṛṣṇa como Ele quiser que eu O sirva". Isto pareceria que o devoto(a) é mais "humilde", mas de facto é Kṛṣṇa que quer que o devoto(a) escolha como quer servi-Lo. Isto só é assim depois de o devoto(a) ter escolhido uma forma de se relacionar com Kṛṣṇa.
Em algumas passagens Śrīla Prabhupāda explica que simplesmente por seguir os quatro princípios e cantar Japa voltaremos ao lar. Isto pareceria corroborar Kṛpā-siddhi. No entanto, em outras passagens Śrīla Prabhupāda explica que para voltar ao lar é preciso passar por todas as etapas. E esta é a posição de todos os Ācāryas.
Então ... nós "construímos" o nosso próximo corpo.
Um corpo criado e meditado a partir de desejos espirituais cultivados durante o Sādhana. Especificamente Rāgānugā-sādhana-bhakti, pois a meta é ... Vṛndāvana.
Deve-se executar Sādhana-bhakti com o corpo externo (Sādhaka-rūpa) e com o corpo interno (Siddha-rūpa).
1 - Em primeiro lugar o praticante deve meditar e visualizar sua forma desejada e almejada, o corpo interno.
No Sanat Kumāra Saṁhitā, Śiva instrui Nārada Muni:
"Internamente o Sādhaka deve pensar em si mesmo como uma jovem adolescente Mañjarī muito bela e encantadora perita em várias artes, que agrada a Rādhā Kṛṣṇa."
2 - Então depois prestar serviço com o corpo interno.
No Śrī Gaura-Govindārcana-Smaraṇa-Paddhatiḥ, Śrīpāda Dhyānacandra Gosvāmī explica:
"Em sua mente, com seu corpo interno, o praticante deve visualizar que esta a prestar diferentes serviços. Com seu corpo interno, ele (ela) sempre vive em Yāvaṭa e Vṛṣabhānupura, servindo na casa de Śrī Rādhā ao lado de outras Sakhīs, como Śrī Lalitā, Viśākhā, etc. Nas margens do Rādhā-kuṇḍa e Śyāma-kuṇḍa, e na bela floresta de Vṛndāvana, ela deve oferecer refeições e outros serviços (como abanar com uma Cāmara e massagear os pés) a Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa."
O melhor momento para executar este serviço interno é durante a Japa, entre uma volta e outra.
http://bhaktirasayana.blogspot.com/2022/01/o-relacionamento-que-eu-gosto-mais.html