domingo, 25 de março de 2012

Os fatores kármicos e genéticos

Por Mahesvara Caitanya Das (JPS)

Considerando os fatores genéticos:

O genoma humano possui aproximadamente 24.000 genes, enquanto que a planta Arabidopsis thaliana (uma planta muito usada nas pesquisas por se conhecer todo o seu genoma) possui aproximadamente 26.000. Como se pode ver, uma planta, que é um organismo muitíssimo mais simples que um humano, possui muito mais genes.

Não querendo me aprofundar muito na parte científica dessa questão, por ser bastante técnica e complexa, digo apenas que o âdogma central da biologia molecularâ tenta relacionar DNA, RNA e proteínas. O DNA pode se replicar e originar novas moléculas de DNA. Pode, ainda, ser transcrito em RNA, e este por sua vez é traduzido numa sequencia de aminoácidos que vão dar origem às proteínas.

Após a transcrição, o RNA resultante é chamado de transcrito primário, e os transcritos primários de RNA mensageiro de eucariontes (organismos mais complexos, cujas células apresentam núcleo) sofrem processamento. Uma das principais partes desse processamento é conhecido por âSplicing Alternativoâ. Um dos principais desafios da era pós-genômica, ou seja, o período após a ciência ter codificado todo o genoma humano, é a descrição e a caracterização funcional do proteoma (conjunto de proteínas expressas por um genoma) de um organismo. A recombinação do DNA, a edição do RNA e o Splicing Alternativo (SA) dificultam muito esta tarefa, pois esses processos aumentam o número de proteínas que podem ser sintetizadas por cada gene. Splicing Alternativo é a inclusão de diferentes éxons (segmento de DNA de um gene eucarioto cujo transcrito permanece após o processo de excisão - ou splicing - no RNAm) resultando na geração de diferentes isoformas a partir de um único gene; essa é a base para a discrepância entre 24.000 genes que codificam proteínas no genoma humano e as 100.000 diferentes proteínas que são sintetizadas. Assim, graças a esse processo, o genoma humano pode produzir mais variedades de proteínas do que a planta Arabidopsis thaliana, apesar de ter menos genes.

Por causa dessas complexidades referentes à genética molecular e por causa do distanciamento da maioria das pessoas sobre tópicos científicos, hoje em dia existe uma concepção errada do significado e importância do código genético. A população, de um modo geral, acredita que toda a informação para se criar um ser humano esteja contido no DNA. Essa âopinião públicaâ foi introduzida e é alimentada pela vertente reducionista da ciência. Mesmo em alguns setores do meio científico, muita gente ainda pensa assim.

A biologia, sob o prisma da abordagem reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a sequencia exata dos aminoácidos na construção dessas macromoléculas â só isso! Os genes ditam apenas a estrutura primária de uma proteína (uma proteína pode ter até quatro tipos de estruturas - a primária é apenas a mais básica) e ponto. Pode-se dizer o mesmo sobre os processos epigenéticos, pois eles só respondem pela síntese de proteínas. O campo da epigenética procura determinar como a função do genoma é afetado por mecanismos que regulam a forma como os genes são processados. 

A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão descritas no código genético nem epigenético. Não se pode dizer de modo algum que o DNA, nem que a epigenética determinem a forma do organismo, muito menos seu comportamento. Sabe-se que alterando o DNA, o organismo muda a forma, mas ainda não se pode afirmar que esta é devida exclusivamente ao DNA ou à epigenética. Assim, isso equivale a dizer que, dados os genes corretos, e, portanto, as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é quase o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que um a casa se construa espontaneamente.

A pesquisa científica estuda as partes de um organismo tentando-se chegar ao organismo como um todo. Para serem consideradas âpartesâ, as coisas devem relacionar-se com algo que seja o âtodoâ. Isto é, não há partes a não ser que exista um todo da qual elas são as peças. Em sistemas biológicos, devido à hierarquia de funções e devido aos múltiplos caminhos causais que se interceptam, a determinação das partes é feita somente depois que o 'todo' apropriado é definido. Não há regras universais para subdividir organismos. A visão de mundo reducionista que domina nossa pesquisa da natureza leva normalmente uma pesquisa a ser feita em dois estágios. Inicialmente, há um processo analítico descendente que quebra o todo em suas partes constituintes, que é então seguida por uma fase sintética na qual são descobertos os caminhos causais entre as partes. O problema da biologia no meio acadêmico é que o modelo da Física, tomado como o paradigma para toda a ciência, não é aplicável totalmente a ela. A característica de um ser vivo, por exemplo, é que ele reage aos estímulos externos, em lugar de ser impulsionado por eles.

A pesquisa biológica muitas vezes ocorre de forma contrária à do reducionismo: começa com um processo sintético ascendente, no qual objetos e fenômenos são tomados como partes, mas o todo do qual eles são as partes ainda não é determinado. São personagens em busca de um autor. O Projeto Genoma Humano, cujo objetivo foi sequenciar o DNA completo de um genoma humano (na realidade, uma composição de um certo número de seres humanos diferentes), é precisamente dessa forma. Mesmo agora, tendo descoberto toda a sequência do DNA humano, responsável pela produção de proteínas, não se sabe qual a função dessas proteínas. Portanto, não saberemos como montar a coleção de genes e suas proteínas em subsistemas funcionais com caminhos de conexões causais.

Como podemos ver, somente a informação fornecida pelo código genético e epigenético não são responsáveis por tudo o que existe e acontece em organismo.

A mente, por exemplo, não pode estar codificada nas informações genéticas ou epigenéticas.

O que acontece é que a ciência ainda não percebeu que os processos físicos existentes em um organismo biológico (processos bioquímicos, biofísicos,etc) sofrem influência de processos não físicos (ares vitais, corpos sutis, etc) que os condicionam e coordenam.

Para se verificar isso de forma mais concreta, tome-se o exemplo da simetria existente em nosso corpo físico: para preservar a simetria das orelhas enquanto crescem, seria necessário a uma enviar uma mensagem à outra dizendo o quanto cresceu em uma determinada direção e esperar que a outra faça quase o mesmo crescimento â o que não faz sentido. Uma explicação mais razoável é que o processo de crescimento de todas as partes do corpo humano, das quais podemos reconhecer as formas, assim como o dos elementos simétricos do corpo, são regulados de fora, por algum tipo de âmodelo bio-organizadorâ não físico. Obviamente, esse modelo não físico interage com os componentes físicos, que também estão sujeitos às influências ambientais.

É curioso notarmos que o DNA na orelha é o mesmo que o do dedo, no entanto um dá orelha e outro dá dedo. Um biólogo âconvencionalâ diria que isso depende da diferenciação propiciada pelo ambiente da orelha e do dedo, mas ele não é capaz de explicar o processo em todo seu detalhe. Além disso, no embrião humano, até a segunda semana não há diferenciação alguma e o ambiente é o mesmo para todas as células. Como principia e é controlada a diferenciação? A propósito, o desenvolvimento do embrião humano é uma maravilha de tal grau que parece um milagre â e não deixa de ser, do ponto de vista físico! Esse é um grande mistério científico, que pode nos levar à hipótese de que existe um modelo não físico regulando todo esse processo de crescimento. Voltando ao DNA, é interessante notar, como já foi dito, que um mesmo gene no DNA pode dar origem a diversas proteínas diferentes. O que determina qual proteína será sintetizada a partir de um mesmo gene ainda não é totalmente conhecido pela ciência. Talvez aí haja também um espaço, onde o modelo bio-organizador não físico possa influenciar o desenvolvimento e a regeneração do organismo físico.

Considerando os fatores Kármicos:

A lei do Karma é um processo universal, pelo qual as causas levam a efeitos. Isso é algo que todos nós já estamos familiarizados. A terceira lei de Newton,  que afirma que toda ação leva a uma reação, é uma aplicação alargada da lei do Karma. Para entendermos a aplicação da lei do Karma em nossa vida espiritual, primeiro devemos entender previamente alguns princípios.

Os vedas (Taittiriya Upanisad 2.1-5, BG 13.5, SB 6.15.12-15) nos informam que o homem possui cinco corpos diferentes (pancha kosha): Annamaya kosha - corpo material grosseiro; Pranamaya kosha : corpo energético sutil (aura, nadis, chakras,etc); Manomaya kosha: corpo mental, responsável por pensamentos, desejos e sentimentos; VijnAnnamaya kosha: corpo da inteligência superior, responsável pela intuição, razão e o discernimento; Anandamaya kosha: corpo da bem-aventurança, onde encontra-se a Jivatma e o Paramatma em eterno relacionamento.

Sendo assim, como podemos ver, o corpo que pensa, possui desejos e sentimentos é o Manomaya kosha.

Os órgãos dos sentidos (Indriyas), juntamente com a mente cognitiva (Manas), a faculdade discriminativa (Buddhi), a sensação de âeuâ ou ego (Ahamkara) e a substância mental sutil (Chitta) formam um complexo chamado de Antahkarana.

Resumida e grosseiramente falando, Manas com sua faculdade cognição recebe as impressões enviadas do mundo exterior pelos órgãos dos sentidos. Buddhi com sua faculdade discriminativa classifica essas impressões e reage a elas.Ahamkara com sua sensação de ego reivindica essas impressões como sendo suas. Esses fatores combinam-se para formar os pensamentos na substância mental sutil (Chitta). As ondas de pensamento no Chitta são chamados Vrittis.

Todos esses processos acontecem no plano de Manomaya kosha.

Os Vrittis surgem em Chitta, porém frequentemente, essas ondas podem submergir para a camada subconsciente da substância mental sutil. Lá, ela continua a ter uma ação subliminar e torna-se um Samskara (impressão). Assim, o Karma, que significa literalmente ação, tem essas ações provindas das impressões profundas de hábitos, que são chamados Samskaras.

Há vários tipos de Samskaras diferentes, cada um deles irá caracterizar um tipo de Karma diferente:

Sanchit Karma: ações acumuladas dos nascimentos anteriores.

Kriyamana Karma: ações realizadas na rotina do dia-a-dia.

Prarabdha Karma: é uma parte do Sanchit Karma que é conhecido como âdestinoâ, determinando o tipo de corpo, sexo, família, classe social, raça, etc.

Na sua forma latente, estes Samskaras não têm força para impulsionar uma ação imediata, mas apenas o potencial para tal ação. Porém, às vezes, os Samskaras se tornam ativos e, então, influenciam a mente e as emoções, que por sua vez levam às ações (Karma).

Assim, akarma, karma e vikarma tem todos origem em Manomaya kosha.

Karma, mente e genética

De acordo com nosso Karma, por sintonia vibratória vamos adquirir um corpo grosseiro (Annamaya kosha) que corresponda aos nossos desejos e pensamentos. Essas qualidades estão impressas no plano de Manomaya kosha, porém, se o corpo grosseiro for humano, ele terá que seguir um padrão pré-estabelecido, o mesmo ocorre se o corpo em questão for animal. Caso seja de um animal, Pranamaya kosha e Annamaya kosha serão diferentes do Pranamaya kosha e Annamaya koshahumanos.

Assim, podemos concluir que um possível modelo bio-organizador não físico que coordene os processos do corpo físico só possa existir no plano de Pranamaya kosha.

Conjecturo que processos moleculares existentes na célula, e, principalmente os processos de replicação, transcrição e tradução do DNA sejam gerenciados por esse modelo bio-organizador não físico. Se assim o for, a mente pode interferir nesses processos também, tanto de forma consciente como inconsciente. Penso assim, pois se o referido modelo bio-organizador existir em Pranamaya kosha, poderá funcionar igual aos chakras, aura e o duplo etérico, que são influenciados pelos ares vitais (os cinco Vayus) em Pranamaya kosha, que por sua vez são diretamente afetados por Chitta, em Manomaya kosha.

Procurando evidências científicas desse fato, deparei-me com uma interessante pesquisa feita em 2003 pelo renomado cientista japonês, Dr. Kazuo Murakami. Ele, pela primeira vez, confirmou de forma científica o poder do pensamento sobre nossos genes.

O Dr. Kazuo Murakami é cientista e autor do livro 'O Código Divino da Vida'. Ele é Prof. catedrático em Bioquímica Aplicada da Universidade de Tsukuba, Dedicou-se à pesquisa pioneira na decodificação do gene que expressa a âreninaâ, hormônio envolvido na regulação da pressão sanguínea. Atualmente, é considerado um potencial candidato ao Prêmio Nobel em função de suas pesquisas na elucidação do DNA.

Sua pesquisa foi verificar os efeitos do riso sobre a atividade dos genes. Seu foco era a forma como o riso afetaria os níveis de glicose no sangue em pessoas com diabetes do tipo 2. Os resultados foram espantosos, pois indicou que o riso tem efeito benéfico sobre os níveis de glicose no sangue. O estudo demonstrou que o riso pode ativar 23 genes diferentes, sendo que um deles tem um papel relevante no aumento dos níveis de glicemia. Esses resultados foram inicialmente publicados pela revista médica âDiabetes Careâ, em maio de 2003, e em 2006 foram divulgados internacionalmente pela agência Reuters.

Quando tive a oportunidade de me encontrar com ele, em conversa, pude perguntar se sabia como a relação mente e DNA ocorria, porém ele disse que não fazia a menor ideia, e que só podia demonstrar que a mesma existia.

As pesquisas do Dr. Kazuo Murakami corroboraram minhas suspeitas, pois aparentemente, não existe meios físicos que possam fazer um gene ser ativado pelo pensamento. Muito provavelmente esses processos não verificáveis em Annamaya kosha (corpo material grosseiro) podem estar funcionando plenamente em Pranamaya kosha.

A existência de um modelo bio-organizador não físico pode explicar muitas questões controversas, como é o caso da homossexualidade.

Muito esforço tem sido feito para provar as bases genéticas da homossexualidade. Porém, com a atuação do modelo bio-organizador não físico não se faz necessária a existência de genes da homossexualidade. Mesmo uma pessoa tendo um genoma totalmente convencional, poderá apresentar o comportamento homossexual, pois o modelo bio-organizador irá se encarregar de fazer surgir, até por meio da epigenética, um fenótipo condizente com o perfil psicológico em questão. O importante é entender que o que vai comandar isso se encontra em nível de Manomaya kosha e Pranamaya kosha e não emAnnamaya kosha.

É claro que isso não descarta a possibilidade de existir algum, ou, alguns genes que, de alguma forma, tenham relação com esse tipo de comportamento. Particularmente, acredito que existam várias combinações de fatores físicos e não físicos que se relacionem formando uma miríade de possibilidades.

OBS: Esse artigo foi escrito com uma relativa "pressa", a pedido de alguns participantes desse fórun (Krishna-Katha, Krishna Katha - Portugal e Iskcon Brasil), porém em momento oportuno irei reenviá-lo de forma mais elaborada. Agradeço pela compreensão. Hare Krishna! Todas as glórias a Srila Prabhupada!

Março - 2012