domingo, 6 de novembro de 2011

Processo Dialético

O texto "O que é Védico?" não fornece uma "pretensa conclusão" afirmando que não existe Dhoti, Kurta e Sari no mundo espiritual, MAS simplesmente afirmando que também existem outras vestimentas no ilimitado mundo espiritual. E portanto não é necessário aplicar neste caso o processo dialético de contraposição de idéias.

Existem pinturas antigas de Sri Krsna a usar calças. E então assim como alguém com terno e gravata poderá meditar  em Krsna com um Dhoti amarelo (Pitambara), também alguém com Dhoti poderá meditar em Krsna com umas calças amarelas (Pitambara) ... ;)

"Instâncias institucionais competentes" de um modo geral são constituidas por vertentes conservadoras, moderas e liberais. De um modo geral e felizmente na maioria dos casos tem prevalecido uma posição madura e moderada.

A ISKCON já mudou muitos "rumos previamente delineados por seu Acarya-fundador" em diferentes países sem mudar a essência dos mesmos.

Dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que leva a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as idéias".

"O processo dialético é o engenho básico para a História." (Srila Hrdayananda Das Goswami Acaryadeva)

"O transcurso de novas afiliações religiosas é guiado por uma interacção dialética entre as forças internas das próprias afiliações religiosas e influências sociais externas." (Hare Krsna Na América: Ascensão, Declínio e Ajustamento por E. Burke Rochford, Jr.)

Obviamente que o processo dialético não se refere a compreensão de Sri Krsna como a Pessoa Suprema, mas a constante necessidade de adaptação devido a variáveis sociais externas (tempo, lugar e circunstância - Desa Kala Patra).

E isto fica muito claro no seguinte significado de Srila Prabhupada:

"A palavra muni significa alguém que pode agitar sua mente de diversos modos através da especulação mental sem chegar a uma conclusão definitiva. Diz-se que cada muni tem um ponto de vista diferente, e se um muni não diferir de outros munis, ele não poderá ser chamado muni no sentido estrito do termo. Nasav risir yasya mata na bhinnam (Mahabharata, Vana-parva 313.117). Mas o sthita-dhir muni, como é mencionado nesta passagem pelo Senhor, é diferente de um muni comum. O sthita-dhir muni está sempre em consciência de Krsna, porque ele esgotou todas as suas atividades relacionadas com a especulação criativa. Ele é chamado prasanta-nihseha-mano-rathantara (Stotra-ratna 43), ou alguém que ultrapassou a fase de especulações mentais e chegou à conclusão de que o Senhor Sri Krsna, ou Vasudeva, é tudo (vasudeva sarvam iti sa mahatma su-durlabha). Ele é chamado um muni cuja mente é fixa." (Srila Prabhupada - BG 2.46)

Os Sthita Dhir Munis não questionam especulativamente a posição de Sri Krsna como Vasudevah Sarvam Iti, MAS constantemente questionam a aplicabilidade do processo da Consciência de Krsna de acordo com Desa Kala Patra. Se não o fizessem ou se não o fizerem estarão a impelir fortemente ao desaparecimento "institucional".

Claro que os ultra conservadores dirão que os Sthita Dhir Munis não deveriam nem mesmo aplicar o processo dialético de acordo com Desa Kala Patra.

Ora, o processo dialético involve troca de idéias que levam a outras idéias. Esta troca de idéias saudável e recomendável torna-se bastante difícil para aqueles pertencentes aos extremos ultra conservador e ultra liberal, mas perfeitamente possível para aqueles situados num centro moderado.

Quer queiramos ou não muitas adaptações foram feitas desde que o Fundador Acarya deixou este planeta. E isto é perfeitamente normal.

Por exemplo os Templos deixaram de ser mantidos pela distribuição de livros e buscaram a fonte de recurso de outras formas (restaurantes, comércio, etc). Isto não era assim na época de Srila Prabhupada.

Alguém poderá questionar porque não continuou-se a incentivar a distribuição massiva de livros.

Basicamente devido ao decréscimo do número de devotos "internos" e um acréscimo de devotos "externos".

E a grande verdade é que poucos serão capazes de levar uma vida monástica por toda uma vida. Temos que admiti-lo. Embora através das suas intrucções (Vani) Srila Prabhupada esteja presente, fisicamente (Vapuh), Srila Prabhupada permaneceu entre nós na ISKCON pelo curto espaço de tempo de 12 anos.

Além disso, os distribuidores de livros ficaram mais a vontade para concentrarem-se exclusivamente na distribuição dos "livros pelos próprios livros" e não pela pressão da coleta, nem tampouco transparecendo a imagem de simples coletadores.

Srila Prabhupada não queria que a ISKCON fosse conhecida como mais uma vertente Hindu. No entanto, posteriomente por uma questão de melhoria da imagem institucional houve uma maior aproximação. E agora é preciso rever esta situação devido a "hinduização" exagerada da ISKCON principalmente em Inglaterra e Estados Unidos.

Em 1982 foi criado o programa "Alimentos para a Vida" como forma de propagar a Consciência de Krsna e ao mesmo tempo alimentar as pessoas com os alimentos recebidos pelo Governo como donativos, melhorando consideravelmente a imagem da ISKCON.

Atracções culturais religiosas foram inauguradas para aumentar a aceitação pública como New Vrndavana em 1980, o Centro Cultural Bhaktivedanta em Detroit em 1983, a manutençao de Ratha Yatras e outras paradas públicas (Cotton Bowl - Dallas 1984 com grande audiência televisiva, Aloha Week Floral Parade - Hawaii 1981 recebendo um prêmio. Moomba Parade - Australia 1983)

As coisas mudam constantemente e o tempo passa ... ;)

Isto tudo levará a ISKCON a afastar-se de seus propósitos e a abraçar a secularização?

"O Futuro dos Novos Movimentos Religiosos - Processo Dialético do Movimento Hare Krsna: Tensão, Definição Pública e Estratégia." (1987) E. Burke Rochford, Jr.

"A medida que a ISKCON aproxima-se do século XXI, o Movimento será confrontado com pressões constantes para acomadar seus valores e estilo de vida em relação a cultura americana. As estratégias de acomodação delineadas neste livro são somente um começo neste processo adaptativo.

Apesar destes esforços, o público americano continua a ver este movimento de forma suspeita. Como resultado a ISKCON precisará encontrar outras formas de diminuir a tensão com a sociedade dominante.

Com isto surge a questão se: Com todas estas acomodações, a ISKCON será capaz de resistir a uma secularização?

Eu acredito que a resposta é sim. Será capaz de resistir porque estas acomodações estão mais comprometidas em eliminar objectivos sectários e de estilo de vida  do que em aceitar os valores e normas de uma sociedade dominante."

A resposta ultra conservadora para tudo isto é a seguinte:

"Caramba! Eu não quero ser aceito como "normal" .. Eu quero ser conhecido como um devoto do devoto do Senhor Supremo Sri Krsna. Deixe o mundo, e todos dentro dele dizer que estou louco. Eu não me importo."

Individualmente isto até pode estar bem, mas institucionalmente não.

Seria cômico se não fosse verdade ... :(

Casa de Krsna

"Kalakantha sente que embora o estilo do início da ISKCON de "junte-se agora e se preocupe com todo o resto mais tarde" funcionou bem no meio social alternativo dos anos sessenta e setenta, um programa de estudo finito que simplesmente dá às pessoas o treinamento para adicionar a consciência de Krishna às suas vidas tem se revelado muito mais atraente no mundo de hoje.

"Eu acho que este é o futuro da divulgação da ISKCON", diz ele. "Em qualquer organização religiosa, há um pequeno número de clérigos e um grande número de rebanho. Estávamos apresentando a consciência de Krishna como se a única opção era ser um homem do pano. E isso é irreal. Organizações religiosas prosperam quando elas têm uma relevância além da classe eclesiástica."

Casa de Krsna

www.krishnalunch.com

Novembro - 2011