terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nrsimha Avatar

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Por Sriman Loka Saksi Prabhu

"Em todas as épocas e culturas, os videntes e sábios auto-realizados, descrevem, de alguma forma, a Divindade. Segundo as escrituras védicas, essa Realidade, que é o Um (eka) sem segundo (advaita), é capaz de, através de sua potência inconcebível (acintya-sakti) e sua misericórdia infinita, manifestar-se em uma variedade infinita de formas, para seus fieis adoradores. Essas formas são tão variadas quanto são as consciências e humores dos devotos.

O Bhagavata Purana diz que: Videntes conhecedores do Absoluto chamam essa substância não-dual de Brahman (o Absoluto infinito), Paramatman (a Consciência Suprema) e Bhagavan (a Personalidade Divina).

O Brahman é o aspecto ontológico da Divindade, como o Ser necessário e absoluto, que permite a existência de todos os outros seres possíveis e relativos. Assim, ele é concebido e adorado pelos jnani-yogis (filósofos). O Paramatman é o aspecto psicológico da Divindade, como o Si-mesmo (atman) universal, o ser consciente (cetana) uno entre todos os seres conscientes individuais. Assim, ele é meditado e adorado pelos dhyani-yogis. Ele é Narayana ou Visnu.

Bhagavan é o Aspecto estético da Divindade. Deus como a Pessoa Suprema, plena de opulências e qualidades infinitas, o objeto do amor e adoração da alma em sua posição constitucional (svarupa). Bhagavan em sua plenitude é Sri Krsna, o cupido transcendental.

Bhagavan, A Divindade Suprema, através de seu aspecto Paramatman, encarna âem diferentes erasâ como inumeráveis avataras. E uma das razões para isso é manter o universo, salvar os piedoso, aniquilar os ímpios, bem como re-estabelecer os princípios da religião.

Entre as encarnações da Divindade, entretanto, encontramos algumas que certamente teria desconcertado Xenofanes (570-470 a.C.). Esse filósofo grego considerava que os conceitos religiosos surgiam da projeção de que porque temos forma humana, imaginamos que Deus também a tenha.

Imaginemos, entretanto, que Deus não tenha uma forma humana, nem animal, mas sim uma forma inconcebível. Na verdade, dizemos que sua forma é inconcebível, pois ela não é o produto de nossa concepção racional. Deus não está limitado a nenhuma forma, pois nada o pode limitar, inclusive não poder ter uma forma que ele queira ter, por mais estranha que ela nos pareça. Imagine que o Senhor Supremo tenha assumido a forma de um ser hibrido, metade homem metade leão. Sim, isso está descrito nas Upanishads:

Entre todas as criaturas, o homem é o mais poderoso e excelente, e, entre as criaturas inferiores, o leão é o mais poderoso e excelente. Para o bem estar dos mundos o Senhor supremo e imperecível assumiu a forma de um Homem-leão. Como o todo-penetrante Vishnu ele é exaltado por sua bravura. Este feroz  animal-homem é o maior dos seres sobre a terra.

O Mahabharata e os Puranas, também descrevem que é como o Senhor Vishnu, além de manifestar-se em varias espécies de vida, que veio nessa forma singular de Narasimhadeva.

A história

Quando o Senhor Vishnu, em sua encarnação Varaha (Javali), matou o asura (demônio) Hiranyaksha, seu irmão Hiranyakashipu, o poderoso e maligno rei dos asuras, ficou extremamente furioso, e jurou vingar a morte de seu irmão. Assim determinado, ele subiu na Montanha de Mandara e executou ali severa penitência (tapas) para propiciar o Senhor Brahma, que no devido tempo se manifestou para abençoá-lo. Devido às bênçãos recebidas de Brahma, Hiranyakashipu não poderia ser morto nem de dia nem de noite, por nenhum homem ou animal, nem dentro nem fora do seu palácio. Portanto, muito-poderoso, ele conseguiu destronar Indra, expulsar os deuses do céu e proclamar-se rei do universo, não permitindo que ninguém recebesse adoração a não ser ele próprio.

Hiranyakashipu tinha um filho, chamado Prahlada, que era um garoto muito piedoso e devotado ao Senhor Vishnu. Apesar de seu pai tentar demovê-lo desta inclinação piedosa, castigando-o violenta e cruelmente, Prahlada continuou pregando a adoração de Vishnu para todos no reino dos asuras. Por isso o cruel pai, decidiu matar o garoto, que sempre estava absorto em meditação no Senhor.

O rei dos asuras, irado, questionou ao seu filho se Deus se encontrava dentro das colunas do palácio, ao que Prahlada respondeu que, como Vishnu está presente em toda parte, também se encontrava dentro das colunas.  Ao ouvir essa resposta, Hiranyakashipu, com seu punho, de um forte golpe na coluna.

Dessa forma, para salvar seu servo Prahlada e destruir Hiranyakashipu, o Senhor Vishnu, nessa forma de Narasimha, surgiu de dentro da coluna. Então, no crepúsculo (que não é dia nem noite) em uma forma metade homem metade leão (nem homem, nem animal), na soleira do palácio (nem dentro, nem fora dele), ele matou com suas garras o reio dos demônios, arrancando-lhe as vísceras.

A teologia

A história de Prahlada, mostra como o Senhor Vishnu assume essa maravilhosa forma de  Narasimha. Ela personifica a ira divina que sempre protege os devotos que, dedicados à pregação das glórias divinas, se expões  às forças ateístas  e antagônicas à devoção ao Senhor.

A adoração do Senhor Vishnu na encarnação de Narasimha, além de ser muito popular entre os reis e guerreiros (ksatriyas), sempre teve um sentido esotérico muito profundo. Por exemplo, Sridhara Swami (século XIV), a maior autoridade exegética da tradição vaishnava, deve a sua autoridade a essa adoração. Em sua tradição encontramos a seguinte afirmação, atribuída ao Senhor Siva, que confirma esse fato: Eu, Siva, conheço a verdade sobre os Vedas, Suka também. Vyasa pode conhecer ou não. Mas Sridhara sabe toda ela, pela misericórdia do Senhor Nrsimha.

Considera-se que o Senhor Nrsimha remove tanto os obstáculos da existência material, como os que impedem o avanço no caminho espiritual, tais como os desejos materiais:

Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Nrsimhadeva, a fonte de todo o poder. Ó meu Senhor, possuidor de garras e dentes que parecem raios, por favor, eliminai nossos desejos demoníacos que neste mundo material, nos impelem às atividades fruiti­vas. Faze o obséquio de manifestar-Vos em nossos corações e dissipai nossa ignorância para que, por Vossa misericórdia, possamos tornar-nos destemidos na luta pela existên­cia neste mundo material.

A tradição espiritual propagada por Sri Caitanya Mahaprabhu é conhecida como Gaudiya Vaishnavismo. Ela é o coroamento da tradição Vaishnava, e enfatiza o conceito de rasa doçura, humor: o aspecto estético da mística. O Gaudiya Vaishnavismo enfatiza a rasa de Madhurya, ou o amor íntimo e doce por Deus. Nisso ela se distingue das outras escolas Vaishnavas que enfatizam a distante rasa de Aishvarya, ou uma atitude reverencial para com Deus. Um Gaudiya Vaishnava é, portanto, aquele que presta serviço amoroso pessoal a Radha e Krsna, segundo os preceitos de Sri Caitanya Mahaprabhu.

O Gaudiya Vaishnavismo considera que há três formas do Senhor Supremo que são consideradas as mais importantes: Krsna, Ramacandra e Narasimha. O  Laghu Bhagavatam (5.16) considera que elas são  paravastha avataras as formas mais importantes do Senhor.  Mas, ainda assim, considera-se que a adoração de Krsna é a meta suprema.

Isso nos leva a perguntar: por que um Gaudiya Vaishnava adora Sri Nrsimhadeva? E em que humor ele o faz?

Srila Bhaktivedanta Swami Prabhupada nos explica que, nesse mundo material, todos sentem medo, e o único meio de todos tornarem-se destemidos é adotar a consciência de Krishna. E que o recurso para tornar-se destemido é cantar o nome do Senhor Nrsimhadeva. Ele diz: yato yato yami tato nrsimhah: onde quer que estejamos, devemos sempre pensar em Nrsimhadeva. Assim, o devoto do senhor jamais sentira medo.

Outro aspecto, na adoração de Nrsimhadeva é que, assim como ele mata os demônios externos, ele remove os obstáculos causado pelos nossos demônios internos. Srila Prabhupada diz que assim como Prahlada Maharaja todo devoto que tem em mente livrar-se dos desejos material deve oferecer suas respeitosas reverências a Nrsimhadeva.

Srila Bhaktivinoda Thakur nos explica:

Em Godrumadvipa, no local chamado Nrsimha Palli, o Senhor Nrsimha lavou as Suas mãos e descansou após ter morto Hiranyakasipu em Satya Yuga.  Chorando implorarei ao Senhor Nrsimha para que possa adorar Radha Madhava em Navadvipa, livre de todos os obstáculos. Embora esta forma do Senhor seja terrível para os não devotos ela é extremamente auspiciosa para os devotos encabeçados por Prahlada. Quando o Senhor Nrsimha ficará satisfeito e misericordio­samente falará comigo, um tolo sem valor, e removerá os meus temores?

O Senhor Nrsimha diz: Querido filho, permanece feliz em Gaura Dhama. Adora Radha Madhava e desenvolve atração pelo Santo Nome. Pela misericórdia dos Meus devotos, todos os obstáculos serão transcendidos. Após falar desta maneira,  quando este bem-aventurado Senhor colocará os Seus pés sobre a minha cabeça?  Neste momento pela misericórdia do Senhor Nrsimha eu exibirei sintomas de amor extático por Radha Krsna e rolarei no chão através da porta do Templo do Senhor Nrsimha.

Portanto,  quando um devoto de Krsna adora Sri Nrsimhadeva, ele o faz  para purificar-se, remover os obstáculos em seu serviço e finalmente alcançar o serviço devocional puro a Sri Sri Radha Krsna.

Sri nrisimha, jaya nrisimha, jaya jaya nrisimha prahladesha jaya padma-mukha-padma bringa

Todas as glórias a Nrsimhadeva! Todas as glórias a Nrsimhadeva, que é o Senhor de Prahlada e, como a abelha, vive a contemplar o rosto de lótus da deusa da fortuna.

Ugram viram maha-vishnum
jvalantam sarvato mukham
nrisimham bhishanam bhadram
mrityur mrityum namamy aham

Ofereço minhas humildes reverências àquele que é o mais irado, que está sempre lutando, que é o consorte de Laksmi, de quem emana labaredas de fogo, que tem muitos rostos, que é metade-homem metade-leão, que é aterrorizante, e que é o matador da morte."

Vosso servo

Prahladesh Dasa Adhikari

Outubro - 2011