quarta-feira, 26 de maio de 2010

Utopia Política

Na degradada era de Kali Yuga todos os sistemas de governação propostos podem ser considerados utópicos na sua aplicação prática.

A implementação de uma Teocracia Democrática Consultiva nada mais é do que a implementação em Kali Yuga do sistema Varnasrama na sociedade em geral. E claro que isto é um grande desafio.

Utopia Política

A seguir um texto interessante do mestre em sociologia política Renato Cancian

"Utopia política é uma expressão que serve para caracterizar um ideal ou uma concepção de organização social que é considerada qualitativamente "melhor" se comparada à sociedade do presente.
Outro aspecto importante de uma utopia política é o método ou forma de se concretizar o ideal utópico: às vezes, por meio do uso da força e da violência revolucionárias; e, outras vezes, por meio do ativismo missionário, baseado na ação pacífica, com o intuito de provocar mudanças por meio do convencimento e da persuasão.
As utopias políticas se apresentam como formas predominantemente "puras" de organização social. Elas carregam um discurso ideológico que se apresenta como uma crítica à sociedade em que surgiram e, ao mesmo tempo, como o projeto de um mundo melhor.
A partir desses pressupostos, podemos deduzir que uma utopia política se constitui na forma de um conjunto de valores e princípios que, necessariamente, está em oposição, em desacordo com os valores dominantes da sociedade do presente, em que ela própria surgiu.

Tipos de utopias políticas

Como projeções de um futuro melhor, as utopias políticas são construídas sempre a partir de algum tipo de insatisfação com as condições da existência social presente - e, para se concretizarem, estabelecem formas de ruptura com a ordem social.
Historicamente, as utopias políticas se diferenciam pela predominância de alguns elementos que apontam para a construção de uma sociedade futura às vezes mais justa, às vezes mais pacífica e às vezes mais abundante.

Platão

Os exemplos do pensamento utópico são muitos. Na Grécia Antiga, o caso mais notável e influente de pensamento político utópico é a obra do filósofo Platão (428-347 a.C.), denominada A República. Platão foi um severo crítico da democracia e dos valores e princípios éticos em vigor na comunidade grega em que viveu.
Em contraposição ao contexto social em que vivia, Platão idealizou uma organização social altamente hierarquizada, seguindo o esquema de divisão tripartite (filósofos, guerreiros e artesãos), mas considerada por ele fundamental para a construção de uma ordem social na qual o paradigma da perfeição seria o elemento norteador da existência de uma coletividade plenamente harmônica e fraterna.

Marx

Um outro exemplo de utopismo político, mas de origem moderna (porém bastante influente até os dias de hoje), é o pensamento do filósofo Karl Marx. Partindo de uma crítica ferrenha ao modo de produção capitalista, Marx idealizou uma sociedade na qual a socialização (por meio da abolição da propriedade privada e da criação da propriedade coletiva) dos meios de produção seria o meio para se estabelecer o igualitarismo pleno.
Na perspectiva do pensamento marxista utópico, o comunismo seria a última etapa da consolidação de uma sociedade justa e igualitária, etapa em que inexistiria qualquer tipo de contradição e conflito social.

Utopia e mudança social

Como fontes de discursos ideológicos que contemplam projeções sobre um futuro melhor, a partir da criação de uma nova organização social, as utopias políticas têm, historicamente, se transformado em projetos e justificativas para a ação reformadora ou revolucionária.

O pensamento marxista, por exemplo, ao conceber uma sociedade comunista a partir da ruptura com a sociedade capitalista, chegou a influenciar inúmeros movimentos revolucionários e de reforma que deixaram profundas marcas na história dos séculos 19 e 20.

Deve-se levar em conta também que as utopias políticas têm enorme capacidade de se materializar, mas apenas parcialmente. Ou seja, o pensamento utópico pode ser rejeitado na sua totalidade, mas sobrevive devido à aceitação de alguns de seus elementos ou princípios norteadores.

O exemplo do marxismo pode ser novamente mencionado, pois, embora a sociedade comunista idealizada por Marx nunca tenha sido construída (e deixou de ser almejada no mundo contemporâneo), ainda assim, o marxismo produziu incontáveis movimentos de reforma que alteraram o funcionamento das sociedades capitalistas.

Outro exemplo notável nos remete ao filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), cujos ideais utópicos de organização do poder político, expostos em sua obra clássica, O Contrato Social, fundamentaram doutrinas jurídico-políticas que sustentam a legitimidade do Estado moderno."

No entanto poderíamos fazer uma análise mais profunda, ou ir mais longe. Os sistemas de governação em Kali Yuga são utópicos exatamente porque esta é uma era de discórdia e desentendimento. Porém o sistema Védico de governação na sua totalidade e plenitude foi realmente implementado em outras eras.

Srimad Bhagavatam 1.9.27

"...Raja-dharma é uma grande ciência, em contraposição à diplomacia moderna pela supremacia política. Os reis eram treinados sistematicamente a tornarem-se magnânimos e não serem meros coletores de impostos. Eles eram treinados a executar diferentes sacrifícios unicamente para a prosperidade dos súditos. Levar os prajas à aquisição da salvação era um grande dever do rei. O pai, o mestre espiritual e o rei não devem ser irresponsáveis quanto a levar seus subordinados ao caminho da liberação final do nascimento, morte, doença e velhice. Quando esses deveres primários são devidamente cumpridos, não há necessidade de governo do povo, pelo povo. Nos dias modernos as pessoas em geral ocupam a administração por força de votos manipulados, mas elas nunca são treinadas nos deveres essenciais de um rei, o que também não é possível para todos. Nessas circunstâncias, os administradores destreinados fracassam em fazer os súditos felizes sob todos os aspectos. Por outro lado, esses administradores destreinados gradualmente tornam-se ladrões e assaltantes e aumentam os impostos para financiar uma administração onerosa que é inútil para todos os propósitos. Na verdade, os brahmanas qualificados destinam-se a dar orientações aos reis para a administração adequada de acordo com as escrituras como o Manu-samhita e os Dharma-satras de Parasara. Um rei típico é o ideal para as pessoas em geral, e se o rei é piedoso, religioso, cavalheiresco e magnânimo, os cidadãos geralmente o seguem...."

Podemos comprovar que o sistema Védico de governação foi realmente implementado em outras eras.

Implementá-lo em Kali Yuga? Uma utopia? Esperar que em Kali Yuga os governantes ou Ksatryas estabeleçam uma religião oficial do Estado e que não sufoquem o crescimento de outra fé estranha à sua, seria uma Utopia?

Bem, os devotos de Krsna tem esperança de que pelo menos num periodo de 10.000 anos de Kali Yuga o sistema Varnasrama será implementado na sociedade em geral, pelo menos em outros moldes. E para isso trabalham duramente na propagação dos Santos Nomes e literatura transcedental.

Talvez pudessemos dizer que Estados Laicos seriam fases intermediárias para posteriormente emergir um Estado de Teocracia Democrática Védica, pois pelo menos estaria assegurada a liberdade religiosa.

O Sistema Védico e a Democracia

Srila Prabhupada: "...Nos dias modernos as pessoas em geral ocupam a administração por força de votos manipulados, mas elas nunca são treinadas nos deveres essenciais de um rei, o que também não é possível para todos..."

SS Hrdayananda Maharaja comenta:

"Devemos notar que a ISKCON não segue os principios da Democracia popular "Jacksoniana", mas investe de autoridade administrativa última um corpo de líderes experientes.
Tradicionalmente, os membros do corpo governativo apontam os novos membros, então alguém poderá mais razoavelmente acusar este sistema de "Oligarquia", um termo que parece estar infectado com uma conotação negativa na cultura contemporânea.
Claramente falando, existe uma linha em crescimento na ISKCON que insiste que mesmo os membros do GBC devam ser eleitos pelos membros mais velhos das comunidades espirituais as quais irão administrar.
De facto, a comunidade muito grande da ISKCON na América do Norte, em Alachua, Florida, recentemente declarou sua intenção de eleger seus próprios representantes do GBC para os quais o GBC internacional poderia dar ou não direito de voto."

Deva Gaura Hari Prabhu questiona se um sistema Bicameralista para o GBC não seria mais apropriado do que o sistema Unicameralista actual.

Alguns trechos:

"O Bicameralismo também tem sido utilizado para fundir juntos um sistema democrático e aristocrático. O exemplo mais conhecido é o sistema britânico, onde historicamente a Câmara dos Lordes é composta por posições hereditárias que representam os nobres, enquanto assentos na Câmara dos Comuns são posições eleitas, representando as pessoas comuns.
Esse sistema permitirá que os membros mais novos possam contribuir e participar da organização da ISKCON do futuro, ao mesmo tempo que facilita uma melhor representação dos devotos no GBC durante os processos decisórios. Uma proposta seria a de ter um Senado do GBC composto de cerca de 40 devotos Seniors experientes, com uma Assembleia do GBC de cerca de 80 devotos que têm demonstrado sua experiência na gestão da sociedade."

Não haveria nenhum problema em utilizar o sistema democrático participativo de votos numa sociedade consciente de Deus, pois seus integrantes saberiam escolher seus líderes e participar nos trabalhos legislativos.

Agora é bem evidente a crise de representação das democracias representativas actuais, onde os eleitos não representam bem o eleitorado. E assim, busca-se no presente momento alcançar uma democracia participativa, onde o eleitorado não somente participa com o voto, mas envia idéias de organizações da sociedade com o fim de que as pessoas possam participar nos trabalhos legislativos.

No entanto, os devotos de Krsna opõem-se a um sistema democrático participativo de votos numa sociedade materialista, onde pessoas despreparadas elegem "líderes" incapazes de satisfazer tanto as necessidades materiais como espirituais, e elas mesmas são incapazes de participar a nível legislativo, pois somente preocupam-se em satisfazer desejos materialistas.

Ainda, sobre o desafio de conciliar a existência de um movimento "missionário" com outros movimentos "missionários" por favor, consulte "Iskcon e Interfé" em:

www.guardioes.com/IskconeInterfe.pdf

Um pequeno trecho: "A declaração da ISKCON afirma que "nenhuma religião é dotada com o monopólio da verdade". Um teólogo protestante alemão, Ulrich Dehn, acredita que isto é "uma percepção que poderia muito bem ser escrita no diário de alguns Cristãos". Todavia, refletindo em infelizes encontros anteriores, ele também desafia a ISKCON a colocar em prática a teoria de sua declaração de interfé."

Srila Prabhupada cita na Introdução do Bhagavad Gita:

ekam sastram devaki-putra-gitam

eko devo devaki-putra eva

eko mantras tasya namani yani

karmapy ekam tasya devasya seva

(Gita Mahatmya 7)

"Hoje em dia, as pessoas estão muito desejosas de ter uma só escritura, um só Deus, uma só religião e uma só ocupação.
Portanto, ekam sastram devaki-putra-gitam: que haja uma única escritura, uma escritura que sirva para o mundo todo - o Bhagavad Gita.
Eko devo devaki-putra eva: que haja um só Deus para o mundo inteiro - Sri Krsna.
Eko mantras tasya namani:e um hino, um mantra, uma oração - o canto do Seu Santo Nome:
Hare Krsna Hare Krsna Krsna Krsna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.
Karmapy ekam tasya devasya seva:
e que haja apenas uma actividade - o serviço à Suprema Personalidade de Deus."

Era assim antes de Kali Yuga.

Vosso servo

Prahladesh Dasa Adhikari