sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vacuidade

Do livro "Ética para o Novo Milênio" de SS o Dalai Lama:

"...Na minha opinião, a diversidade existente entre as várias tradições religiosas é uma grande riqueza. Por conseguinte, não é necessário arranjar maneira de dizer que no fundo todas as religiões são iguais.

São semelhantes na medida em que todas sublinham a importância do amor e da compaixão no contexto da disciplina Ética.

Mas esta afirmação não significa que todas sejam uma em essência.
Apesar das muitas semelhanças práticas que sem dúvida existem, a concepção totalmente oposta da criação e do sem-começo que o Budismo, o Cristianismo e o Hinduísmo têm, por exemplo,

significa que num dado ponto, no que toca às afirmações metafísicas, eles se afastam.
Estas contradições podem não ser importantes nos estados iniciais da prática religiosa mas, à medida que avançamos no caminho de uma dada tradição, há sempre uma dada altura em que somos forçados a reconhecer as diferenças fundamentais.

Por exemplo, o conceito de renascimento no Budismo e em várias outras tradições indianas antigas, podem revelar-se diametralmente opostas e incompatíveis com a idéia de salvação do Cristianismo...

...Algumas pessoas, é verdade, acham que o conceito Budista de Shunyata, ou Vacuidade, é no fundo o mesmo que algumas das concepções da compreensão do conceito de Deus.
Todavia, esta concepção implica algumas dificuldades.
A principal é que, evidentemente, podemos interpretar estes conceitos desta forma, mas, ao fazê-lo, até que ponto permanecemos fiéis ao ensinamento do Buddha?
Há semelhanças flagrantes entre os conceitos do Budismo Mahayana de Dharmakaya, Sambogakaya e Nirmanakaya e a Trindade Cristã de Pai, Filho e Espírito Santo.
Mas afirmar, com base nisto, que o Budismo e o Cristianismo no fundo são iguais, parece-me que é ir longe de mais !
Como diz um antigo provérbio tibetano, não devemos pôr a cabeça de um iaque num corpo de ovelha - ou vice-versa..."

Fim da Citação.

Sobre a Vacuidade Budista, muitos interpretam-na não como sendo o "vazio", mas como sendo o "tudo".
Nesta vacuidade somos plenamente conscientes de tudo, mas estamos a parte de tudo.

Também, convém salientar de acordo com o Livro Tibetano da Vida e da Morte, que todas as manifestações de Divindades Budistas não tem existência separada da natureza da mente, já que os Budistas negam a Alma individual e a Alma Suprema.

Ainda, na fase de Dharmata, estas visões das Divindades e seus respectivos Yantras servem simplesmente para ajudar-nos na nossa realização da completa Vacuidade (Nirvana), afastando-nos dos reinos Samsaricos, entre eles o reino de Deus.

Então, afirmar que o Senhor Krsna poderá aparecer na prática meditativa Budista e ajudar-nos a realizar a Vacuidade e afastarnos do Seu próprio reino, parece-nos "que é ir longe demais !"

Srila Prabhupada sempre elogiou as actividades do Senhor Jesus Cristo, por exemplo,
considerando-o um Vaisnava avançadíssimo e com muita devoção à Deus.

Srila Prabhupada sempre adorou o Senhor Buddha como a Suprema Personalidade de Deus.
Mas nunca vamos encontrar Srila Prabhupada ou qualquer outro Acarya elogiando a filosofia Budista.

Pessoalmente inspiro-me muito na vida do grande Vaisnava São Francisco de Assis.
Sempre recomendo o filme de Franco Zeffirelli, "Irmão Sol, Irmã Lua", que conta a vida deste grande devoto.
É um clássico do cinema.
Vi-o pela primeira vez quando era muto jovem e marcou-me para sempre.

O Pluralismo religioso dá-se por evitar por um lado o extremo do fanatismo de que só minha religião está correcta e por outro o extremo do Sincretismo desnecessário.

Um amante de Deus somente está interessado em outros amantes de Deus, não importando a qual religião pertençam.
Um amante de Deus não está interessado naqueles que negam Deus.

Ainda sobre o Vegetarianismo e o Budismo, existem Budistas (Mahayana) que são muito fiéis aos ensinamentos originais de Buddha e são estritamente vegetarianos e somenmte ingerem carne em casos extremos, exatamente como os Vaisnavas.

Porém, existem outros Budistas que apesar de terem disponíveis todo tipo de alimentos, comem carne que lhes é oferecida de um animal morto não especificamente para eles (segundo eles Karma neutro).

No Surangama Sutra, o próprio Buddha predisse que no futuro alguns monges iriam deturpar Seus ensinamentos sobre não comer carne.

No entanto, os Vedas são muito claros sobre isto:
Aqueles que matam um animal, ou preparam a carne, ou vendem-na, transportam-na ou consomem esta carne, todos acumulam Karma.

Obviamente, mais do que simples vegetarianos, os Gaudiya Vaisnavas oferecem com amor e devoção o alimento à Krsna e desta forma cultivam seu amor à Deus.

Vosso servo
Prahladesh Dasa