quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Vaisnavismo

A Tradição Vaishnava é caracterizada pelo uso de imagens, também chamadas murtis ou deidades, para a adoração, seja no templo ou privadamente. Essas formas de diferentes aspectos da Divindade, como Krishna, Rama, Vishnu, Nrsimha, etc., são detalhadamente descritos nas Escrituras. Adorar a Deus através de imagens é, muitas vezes tido como idolatria. Contudo a diferença entre a idolatria e a adoração das deidades é que, no primeiro caso, concebe-se uma forma e ritual para se adorar a um Deus imaginário, enquanto que no segundo caso, segue-se estritamente o procedimento estabelecido nas Escrituras para esse fim, procedimentos esses incrivelmente elaborados, exigindo muitos cuidados e um especial estado de consciência para lidar com os objetos de adoração.

A idéia subjacente dessa forma de adoração é que Deus está presente naquela forma particular. Ele é Onipresente. Estando presente em todo lugar, Ele, certamente, está presente na deidade, principalmente, sendo considerado o fato de que essa imagem está sendo cuidada e venerada com consciência espiritual. Deus é invisível a nossos olhos, mas, por Sua misericórdia, torna-se acessível para aceitar nossa adoração dentro deste mundo. Devido ao ritual regulado e constante e a atitude devocional, tanto dos sacerdotes quanto dos devotos em geral, a deidade torna-se um foco de energia espiritual poderosíssima, bálsamo capaz de aliviar nossos sofrimentos.

Num templo Hare Krishna, a primeira cerimônia começa bem cedo, às quatro e trinta da madrugada. A idéia é que, ao acordar, toma-se logo um banho e, imediatamente, como sendo a primeira coisa de cada dia do devoto, ele recepciona o Senhor no templo. Essa cerimônia, que irá também acontecer em certas horas ao longo do dia, chama-se arati. Oferece-se, no altar, preparações comestíveis especificamente elaboradas para as diferentes horas do dia, e, também, outros artigos como incenso, flores com perfume, lamparina e outros. Cada arati tem seu canto específico e devem acontecer em horários estritamente estabelecidos.

O ritual é uma maneira formal e externa de oferecer nossa devoção a Deus. Ele não é um fim em si, mas um instrumento a nosso dispor para elevarmos nossa consciência material, normalmente aferrada nas atividades mundanas do dia-a-dia, à consciência de Deus. A idéia da oferenda é que o devoto aproxima-se de Deus não somente para pedir e pedir, mas para oferecer seu amor. Deus não precisa de nada, mas temos que demonstrar nosso amor a Ele, aproximando-se dEle com uma atitude adequada. Quando o amor a Deus já é parte da natureza do devoto, o ritual é, inclusive, dispensável. Sua vida, na totalidade, já é um oferecimento de amor a Deus.

Existe, também, o ritual de iniciação que é a formalização da conexão do devoto com a linha de conhecimento, que descende de mestre em mestre até tempos imemoriais. O devoto faz votos (explicaremos adiante) e torna-se um representante da Tradição. Nessa ocasião é feita uma cerimônia chamada agni-hotra, sacrifício de fogo, que visa a purificação e espiritualização.