quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Movimento Hare Krsna

O sub-continente indiano é o cenário para um leque de tradições religiosas, a maioria tendo suas origens em épocas muito remotas. O Vaishnavismo, em particular, não tem um registro de início. Os textos sagrados, muitos deles compilados em datas que remontam à era védica de cinco mil anos atrás, já oferecem o delineamento da doutrina, que antes era praticada e transmitida em via oral. 

Já na era cristã, o Vaishnavismo institucionalizou-se e associou-se ao sistema Vedanta de filosofia. Surgiram grandes filósofos teístas, como Ramanuja, Madhva, Nimbarka e Vishnuswami e foi, assim, formatado em quatro linhas principais, chamadas sampradayas. O sistema de filosofia Vedanta tem duas linhas: uma estritamente filosófica e outra teísta. O Vaishnavismo, obviamente, é a linha teísta. O “movimento Hare Krishna” é filiado à linha Vaishnava chamada Brahma-Madhva-sampradaya.

O “movimento Hare Krishna” teve seu início há quinhentos anos, exatamente na virada do século, na época dos descobrimentos. O responsável por sua difusão foi o santo Sri Caitanya (lê-se Cheitânya) Mahaprabhu. Sua vida foi ampamente registrada em biografias, algumas delas contemporâneas a ele. Caitanya, que foi um acadêmico e intelectual sem rival em sua juventude, teve uma reviravolta radical em sua vida, passando a manifestar uma natureza mística sem precedentes, certamente, na história da humanidade. Mais da metade dos quarenta e oito anos de sua existência foram passados, na maior parte do tempo, num êxtase místico de amor a Deus.

A mensagem de Caitanya resume-se basicamente na realização de que o método mais eficaz para restabelecermos nossa conexão com Deus é através do canto e meditação de Seus santos nomes. Os santos nomes do Senhor, diz Caitanya, possuem energias espirituais que vão atuar na consciência, tornando-a cada vez mais espiritualizada. Com a prática, obtém-se purificação, auto-conhecimento, desapego, renúncia, santidade, paz interior e amor puro por Deus.

Embora todos os nomes referentes a Deus têm esse poder, Caitanya recomendava o canto e a meditação no maha-mantra Hare Krishna (explicaremos mais a frente). Seu movimento teve um grande impacto social pois desestruturava um rígido sistema de castas que prevalecia no país naquela época. Ele atingiu tanto as camadas populares quanto a classe intelectual, e até, membros da realeza. Começou na região da Bengala (leste da Índia, cuja capital é Calcutá) e, a seguir, espalhou-se pelo estado vizinho, Orissa. Na seqüência, permeou o país. Caitanya, inclusive, profetizou que esse canto espalhar-se-ia pelo planeta, o que , mais ou menos, podemos, hoje em dia, presenciar.

Em 1965, um sannyasi (renunciado) da linha de Caitanya, A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, trouxe esse conhecimento para o Ocidente. Aos setenta anos de idade, sem recursos e qualquer apoio institucional, Swami Prabhupada desembarcou em Boston, nos Estados Unidos. Logo a seguir, radicou-se em Nova York e, por arranjo do destino, seu público foi, quase que exclusivamente, o mundo hippie, que naquela época, estava em seu auge. Sua mensagem era estritamente ortodoxa e apresentava valores praticamente diametrais aos cultivados pelos hippies.

Mas, mesmo assim, surpreendentemente, sua mensagem teve um tremendo eco, certamente devido à genuína postura espiritual de Prabhupada. Em 1966, ele fundou a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON). De Nova York estabeleceu-se uma ramificação no oeste, em São Francisco; depois Montreal e Londres. De lá, à medida em que seus discípulos espalhavam centros nos diversos continentes, Prabhupada voltou à sua terra natal e estabeleceu alguns importantes centros de adoração a Deus.