Estimados irmãos em Consciência de Krishna,
Hare Krishna!
Todas as glórias à Srila Prabhupada!
Antes de começar a argumentar: não defendo minha posição de forma apaixonada, muito pelo contrário, ela é fruto de constantes ponderações imparciais e reavaliações das conclusões. Minha posição não é de simplesmente divergir nas ideias, mas consistir as ideias.
Se nós, seguidores do vaishnavismo gaudiya, acreditamos que Deus exista e que ele deve ser adorado e lembrado sempre, não importando a situação do momento, e que todas as pessoas deveriam fazer o mesmo, isso será sempre uma opinião de foro íntimo e pessoal dos membros de nossa fé.
Se nós, devotos de Krishna, queremos que o materialismo acabe e que todas as pessoas cantem os santos nomes, pois essa é a vontade de Deus e está escrito em nossos livros sagrados, essa também será sempre uma opinião de foro íntimo e pessoal dos membros de nossa fé.
Porém, não cabe ao poder público fazer esse tipo de julgamento, muito pelo contrário, ele deve manter-se neutro sobre as inúmeras interpretações de tudo que se refira à matéria religiosa, de tal modo que possa garantir a igualdade de oportunidades a todas confissões religiosas, bem como para com a inexistência dela, como no caso dos ateus e agnósticos.
Para tomar partido o governo deveria ter uma religião oficial. Os Estados de países Islâmicos e o Estado do Vaticano (Igreja Católica Romana), por exemplo, possuem religião oficial, não são laicos e por isso, nesses países, somente a religião oficial é permitida, enquanto que outros credos ou são extremamente restringidos em suas manifestações ou são sistematicamente perseguidos. Nesses países, a ISKCON não tem vez!
A formação de um Estado laico, por outro lado, constitui um grande avanço social. Nos países onde o Estado é laico, a ISKCON, bem como qualquer fé, pode se manifestar sem medo, tendo sua expressão garantida e respeitada por Lei.
É graças ao fato de nosso Estado ser laico é que podemos fazer kirtanas em locais públicos, distribuir prasada, fazer Rata-Yatras, etc.
Se o Brasil fosse um país oficialmente católico, como era antigamente, ou se ele se tornar evangélico, como querem os políticos da bancada parlamentar evangélica, ou se ele se tornar Islâmico, com certeza essas manifestações públicas do vaishnavismo gaudiya não seriam toleradas nem permitidas e a ISKCON seria inexpressiva e provavelmente perseguida pelo governo.
A existência de Estados laicos são a garantia de países onde podemos pregar a Consciência de Krishna livremente, da melhor forma possível. Assim, nesse sentido, nós da ISKCON deveríamos defender a ideia de laicidade dos Estados e não combatê-la.
O Estado laico não é ateu, mas é um estado sem preferência nem demonstração de fé. A condição de não ser ateu e simultaneamente não ter fé talvez seja contraditória em um indivíduo, mas não o é quando se trata de um Estado, pois este não pode desfrutar do direito da liberdade religiosa, pois Estado não é gente.
A liberdade religiosa só pode ser exercida por indivíduos e suas associações na sociedade civil, mas nunca pelos Estados. Como a questão é importante, vale a pena entendê-la em detalhe.
A rigor, Estados não podem ter ou deixar de ter fé: a fé é uma característica de pessoas. Instituições ou Estados podem, quando muito, promover uma ou outra fé, ou a falta dela. Entendendo que Estados laicos são sempre neutros com relação às matérias religiosas, então a laicidade implica que o Estado não promova nenhuma posição com relação à religião: nem em relação ao ateísmo, nem a qualquer credo religioso.
Nesse sentido, o Estado laico não é ateu, mas também não tem fé, ou seja, não promove a fé. Afinal de contas, a fé ou falta dela é uma questão de foro íntimo e deve ser completamente livre e voluntária, e não objeto de política pública. Assim, o Estado laico não se antepõe a símbolos, frases religiosas, desde que esses não sejam veiculados pelo governo, pela máquina pública.
O Estado laico deve ser um árbitro que garanta a todos a liberdade religiosa plena. E, como todo bom árbitro, ele não pode dar, nem demonstrar preferência a nenhum lado, do contrário sua isenção estaria comprometida.
Tendo-se entendido essa premissa fundamental, poderemos agora discorrer sobre a frase “Deus seja louvado” nas cédulas de Real.
Essa frase, presente nas cédulas de Real, ao contrário do que muita gente pensa, não é um sinal de que a sociedade entende que deva defender valores religiosos e espirituais, ou que o materialismo ainda não contaminou completamente o governo, mas é, antes de tudo, mostrar que existe uma reação da Igreja Católica Romana contra o estado laico, pois querem voltar a ser a religião oficial.
Quem determinou a colocação da frase foi o antigo presidente da República, José Sarney, católico praticante, em 1980. A frase não leva em conta a existência, em nossa sociedade, de comunidades não-teístas, como as de agnósticos, ateus, budistas, bem como adeptos de religiões politeístas como as de matriz afro-brasileiras, Wicca, etc.
A resolução foi um ato de intolerância, tanto ao Estado laico, como para com as outras confissões religiosas e ateus e agnósticos.
É preferível que tenhamos uma nota laica, sem a referida frase, pois ela é produzida com o dinheiro de todos os brasileiros (seguidores de todas as fés, ateus e agnósticos) e poder afirmarmos a laicidade do Estado, para desfrutarmos da garantia de liberdade religiosa, do que termos uma nota com uma frase que seja interessante apenas para parte da população e que mine aos poucos a laicidade do Estado.
Caso esta característica laica do Estado venha a desaparecer, seremos um Estado cristão católico (ou evangélico, islâmico, etc, menos Hare Krishna) onde esses direitos serão rejeitados e suprimidos. Antes de essa frase ser colocada nas cédulas do dinheiro brasileiro (antes de 1980), ninguém achava que isso era ruim, ou sinal de que a Kali-Yuga estava degradando nossa sociedade.
A frase só serviu para ameaçar a neutralidade do Estado em relação às matérias religiosas, fazendo-o tendencioso, o que para a ISKCON é temeroso.
Assim, apesar de eu ser um religioso, sou a favor do Estado laico, da isenção de toda expressão de religiosidade, por parte do governo, bem como a tudo que esteja relacionado a ele.
Hari bol!
Atenciosamente,
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimado Bhakta Eduardo,
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Agradeço pelo apreço e consideração.
Não respondi antes por total falta de tempo, desculpe-me.
Não concordo com sua afirmação sobre eu ser responsável pelo conteúdo do que eu escrevi para mostrar uma opinião que não é a minha e não acredito que seja isso que se afirme na referida norma que você apresentou. Poderíamos discutir sobre esse ponto também, porém, tenho prioridades outras no momento.
Peço desculpas se você se sentiu ofendido por minhas considerações, pois não era esse o meu propósito (a gente nunca sabe direito com o que as pessoas vão se ofender ou não), mas acho que durante uma disputa argumentativa (em bases construtivas) sempre estaremos expostos a potenciais episódios como este, assim, rogo por sua compreensão.
Sua frase "Então chego a conclusão de que na verdade eu que devo sair..." dá a entender que alguém deveria, necessariamente, sair do fórum eletrônico após findar-se a discussão sobre o tema, o que discordo.
Estamos, antes de tudo, conversando e comparando razões, de forma construtiva, racional e civilizada, tentando buscar esclarecimento, de modo que isso não deveria ser tomado como um ataque pessoal ou uma batalha eliminativa.
Acredito que precisamos aprender e aprimorar, cada vez mais, nossa capacidade de discordar, discutir, comparar, reconciliar, reavaliar sem a necessidade de que uma discussão tome um aspecto intolerante, hostil e marcial.
Hari bol!
Atenciosamente,
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimado Bhakta Eduardo,
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Lendo sua resposta, tive a impressão de que a frase “Dizer que por vergonha os Umbandistas negam sua verdadei crenca e horrível...” possa ter sido dirigida a minha pessoa. Porém, gostaria de lembrar-lhe que, caso essa constatação seja verdadeira, essa afirmação não é minha, mas apenas registrei por escrito o que ouvi pessoalmente de lideranças religiosas Afro-brasileiras.
Assim, qualquer discordância, protesto ou insatisfação quanto à referida afirmação deveria ser direcionada a quem, de fato, a fez.
Se houve algum preconceito ou intolerância religiosa nessa afirmação, não fui eu quem a pronunciou, por isso não pode ser atribuída a mim.
Pessoalmente, me é indiferente se uma religião, que não a minha, seja monoteísta, politeísta, ateísta (budismo), panteísta, etc., pois eu a respeitarei da mesma forma que desejo que a minha seja respeitada.
Eu achava que as religiões afro-brasileiras fossem todas monoteístas, mas depois descobri que não é bem assim, contudo, respeito às mesmas indiferentemente qual seja a orientação adotada nesse sentido.
Lendo-se cuidadosamente nossa conversa, não vejo como as pessoas poderão nos julgar intolerantes com outras religiões. Muito pelo contrário. A defesa do Estado laico é a maior prova de que temos respeito por todas as religiões e crenças, de que todas merecem ser consideradas de forma igual pelo governo.
Grato,
Hari bol!
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimado Prabhu Varistha Dasa,
Hare Krishna!
Todas as glórias à Srila Prabhupada!
Seguindo o mesmo raciocínio que o seu, não se poderia considerar errado o desejo de um muçulmano, que o mundo inteiro fosse obrigado a se submeter ao Islã, independentemente se as pessoas acreditem ou não, porque ele acredita que sua religião propagará uma mensagem positiva e que mal não irá fazer, sendo o ideal deles legítimo.
Da mesma forma, o ateu diria que a frase "Deus não existe" também é positiva e deveria ser colocada na nota de Real, pois além de não fazer mal, alertaria os pobres religiosos que estão totalmente equivocados. Igualmente, qualquer pessoa, com qualquer crença religiosa ou não, poderá acreditar que independentemente se as pessoas acreditem ou não, a crença deles é que é verdadeira, porque ela propagará uma mensagem positiva que mal não irá fazer e por isso merece estar em todos os espaços públicos, bem como manifestar-se em toda a máquina pública, sem levar em conta as opiniões divergentes existentes na sociedade.
Não é preciso pensar muito para se chegar à conclusão que isso é um reducionismo equivocadíssimo.
Esse modo de ver as coisas tem um nome: etnocentrismo.
O etnocentrismo nos faz levar a um julgamento de valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do "eu". Assim, o Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.
É óbvio que isso, quando aplicado ao convívio humano acaba se refletindo em injustiças, intolerância, desavenças, hostilidades, etc., pois existe a tendência de se impor a própria “verdade” aos que pensam diferente.
É por isso que foi escrito “quando uma mensagem positiva está sendo divulgada, independente de quem acredite ou não (imposição intolerante do próprio conceito de verdade), ela deve ser valorizada. Isso talvez até inspire outros (os que pensam diferente) a dar o devido valor (à minha verdade).
Então vamos ser otimistas e deixar vibrar esta frase tão importante em todos os tempos, independente do país, dos credos ou preconceitos (novamente imposição intolerante do próprio conceito de verdade) .”.
Nós podemos acreditar, como seguidores do vaishnavismo gaudiya, que a frase “Deus seja louvado” (que foi colocada na cédula por força do catolicismo que deseja retomar a influência perdida nos assuntos estatais) na nota de Real seja um coisa boa e correta, contudo, isso não pode ser sustentado pelo Poder Público, que deve considerar todos os grupos de forma equânime, anulando o etnocentrismo que por ventura exista nestes mesmos grupos.
A laicidade do Estado pode ser desconfortável para as mentes mais intolerantes e fanáticas, porém é, sem dúvida, um grande avanço social.
Grato,
Hari bol!
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimado Bhakta Eduardo,
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
De certa forma, já esperava que meu texto fosse suscitar esse tipo de questionamento.
Eu também tinha essa imagem, de que as religiões afro-brasileiras fossem todas monoteístas, até que, em meu trabalho de diálogo inter-religioso fiquei perplexo ao escutar uma famosa mãe de santo, Iyalorisa Sandra Epega (http://www.sandraepega.com.br), afirmar, em alto e bom som, que os cultos afro-brasileiros eram todos politeístas, e isso diante de uma plateia composta de membros das mais variadas linhagens religiosas (todas afro-brasileiras), durante as comemorações do “Dia da Consciência Negra”, e ninguém se manifestou em contrário.
Após os discursos, fomos para uma sala onde serviam “comes e bebes”, e lá pude pedir maiores explicações sobre o que ela acabava de dizer em público.
Ela não se encontrava sozinha, mas estava cercada de outros religiosos (Babalorisas e Iyalorisa) das mais diversas tradições, foi quando ela me explicou o que postei em meu texto anterior.
Os demais também concordaram com as considerações dela e complementaram dizendo que alguns religiosos negam o politeísmo afro-brasileiro por pura vergonha, pois a fé cristã havia criado o “mito” de que religiões politeístas são primitivas e selvagens e é por isso que na Umbanda, que é uma religião com grande influência cristã, muitos religiosos não assumem o politeísmo.
Assim, é na Umbanda que encontramos essa defesa da ideia de monoteísmo.
Essa crença no monoteísmo é muito comum em algumas casas de Umbanda, quando louvam a Deus e Jesus Cristo em suas aberturas, ou até mesmo a Olorun ou Oxalá, para alguns Zambi (que é a corrente que você conhece) ou Obatalá.
Contudo existem aquelas casas onde o culto é mais africano e acreditam na existência de vários Deuses (Orixás), e para cada situação da qual o filho passa, ele evoca um orixá diferente, seja Xangô em problemas de Justiça, seja Oxum em problemas com o amor, seja Obaluaie com problemas de doença. São Deuses que atuam em diferentes aspectos da Natureza e da Vida Terrestre. Não evocam a um Deus Único e sim os Deuses em seus campos sagrados, sendo, portanto, politeístas.
Como você mesmo afirmou, este assunto possui uma certa complexidade, que não era minha ideia adentrar. Quando afirmei que os cultos afro-brasileiros eram politeístas, foi mais para que as pessoas lembrassem-se da existência desses grupos, no qual a frase “Deus seja louvado” não encontra respaldo.
Porém, venho advertir-lhe que minhas considerações não são meramente preconceituosas, como foi afirmado, pois não foram motivadas por um “pré-conceito”, muito pelo contrário, são fruto de um “pós-conceito”.
Quanto à adoração feita aos semideuses do panteão hindu, isso não pode ser considerado politeísmo, mas sim panteísmo ou monismo. Panteísmo é uma crença que identifica o universo (em grego: pan,tudo) com Deus (em grego: theos).
Chama-se de monismo (do grego monis, "um") às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica). O panteísmo e o monismo costumam ser associados ao misticismo, no qual o objetivo humano é alcançar a união com o divino (o que é tecnicamente chamado de impersonalismo, enquanto que o monoteísmo é personalista).
Espero que tenha esgotado o assunto relativo a essa digressão do tema original, contudo, agradeço por enriquecer a discussão.
Grato,
Hari bol!
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimado Bhakta Eduardo,
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Ouvimos sempre dizer que Olódúmarè é o Deus Supremo no Candomblé.
Existe uma grande contradição que paira sobre a cultura africana, até mesmo as religiões com influência dos Deuses negros (orisás). Uma religião que acredita num Deus supremo com nome de Olódúmarè, agregando o povo do céu chamado de Irum, baseia-se na criação do universo.
Desta forma, Olódúmarè desejou criar a Terra e pediu para um Irum descer e iniciar a criação, seu nome é conhecido por todos como Odùdúwa, assim ele fez a Terra e onde começou a criação é conhecido até hoje por Ilé-Ifé. Deste ponto surge o planeta, os reinos e o homem.
Ilé-Ifé é conhecido por ser o primeiro local a ser tocado pelas demais divindades e foi nesta cidade que se iniciou o culto aos Iruns que mais tarde passariam a ser chamados de Orisás (os que escolhem as cabeças – Ori = cabeça; sá = escolhem).
Com grande quantidade de Orisás cultuados no planeta, a religião africana e as religiões afro-brasileiras se contradizem ao afirmar que são monoteístas, pois para que isso seja feito existe a necessidade de cultuar um Deus único, ou seja, sem as demais divindades chamadas de Orisás.
Para os africanos e seus descendentes religiosos Olódúmarè, o grande Deus, tem a finalidade, apenas, de criar os Iruns. Ele não exerce mais atividade e não é cultuado nos templos. Assim, acreditar num ser Onipotente como o gerador deste poder e não cultuá-lo não quer dizer que os seguidores da cultura afros são monoteístas.
Para o monoteísmo reinar dentro da cultura afro haveria necessidade de uma revolução religiosa e o poder dos Orisás caírem para simples intercessores de Olódúmarè.
Cada terreiro deveria descer a comunheira do dono da casa e dos Orisás do Ilê, deixando todos os demais assentamentos sagrados para fora e cultuar apenas Olódúmarè.
Como foi feito por Akenathon no antigo Egito, durante a revolução religiosa, onde ele parte para Heliópolis e funda o templo do deus Rá. Abandonando o panteão egípcio e assumindo Rá como o deus supremo.
Observando que cada Orisá possui o poder de criar e mudar o destino do povo da Terra, conforme seus caprichos nos faz acreditar que a religião afro-brasileira é politeísta mesmo acreditando em um deus central, “Olódúmarè”.
Não há registro de algum templo erigido para Olódúmarè em algum lugar do planeta. Sabe-se apenas que os templos religiosos afro-brasileiros são estruturados e fundamentados para a divindade da cabeça do seu fundador ou de algum antepassado. Até mesmo na África os templos são destinados a alguma divindade, não existem imagens ou sacrifícios para “Olódúmarè” dentro dos templos.
Daí eu situar o Candomblé como politeísta.
Quanto aos agnósticos, eles não afirmam a existência ou a inexistência de Deus, porque, na verdade, eles não se importam com isso. É por isso que para eles a palavra “Deus” também não faz sentido.
Porém, peço desculpas por, no meu texto anterior, ter feito uma generalização grosseira dizendo que eles não acreditam em Deus.
Grato,
Hari bol!
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Estimados devotos, Gostha-Vihari e Krishna Karuna,
Hare Krishna!
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Baseado no que foi escrito no texto anterior, pode-se entender que não é verdade que qualquer religião glorifica Deus. A palavra “Deus” tem significado especial apenas à parcela da sociedade que é teísta.
Para os ateus, agnósticos e budistas (estes três grupos não acreditam que Deus exista), bem como para os adeptos de cultos Afro-brasileiros, Wicca, crenças indígenas e xamãnicas (estes grupos são politeístas) a palavra Deus não faz sentido algum. O Brasil é para todos e de todos. Não é justo colocar a frase “Deus seja louvado” para agradar apenas uma parcela da população, mesmo que ela seja a maioria, do mesmo modo como não seria correto colocarmos a frase “Os deuses sejam louvados!”, ou a frase “Deus não existe!” - ou, o que seria pior, as três frases juntas na cédula.
Assim, para conciliar todas as visões sobre este ponto, o melhor e mais justo é não colocar nada, exatamente como era antes de 1980.
Às vezes, pode-se pensar que como a maioria da população é teísta e o país é democrático, isso signifique que a vontade da maioria deva prevalecer.
Contudo, em uma democracia, a vitória da maioria se aplica somente na contagem de votos no trato da liberdade de escolha dos governantes e não no trato com as minorias e outros grupos desfavorecidos.
Uma das características importantes do Estado de Direito se reflete justamente na defesa intransigente dos direitos individuais, a despeito de qualquer coisa, inclusive da vontade da maioria.
Do contrário não deveríamos nos preocupar com idosos, mulheres, negros, crianças, pobres, indígenas, portadores de deficiências físicas, etc. Aliás, poucas são as pessoas que não acabam pertencendo a algum tipo de grupo minoritário e cujos direitos devem ser respeitados.
O regime democrático, assim como nossa Constituição, exige que a lei seja igual para todos e que se elimine todo tipo de discriminação. O tamanho da maioria não importa. O art. 5 da Constituição Federal afirma que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Tem mais. O art. 3 afirma que “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; […] IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Assim, amigos, esses meus argumentos apresentados não são mero “jogo de palavras” como foi mencionado.
Só para constar: a despeito da afirmação “Pelo menos serve pra antecipar a vinda de Krishna (como Kalki)”, gostaria de lembrá-los que, tecnicamente, não estamos avançando em Kali-Yuga, mas saindo dela, em direção a um alvorecer do período de Satya-Yuga, que iniciou com o aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu, e que deverá durar 10.000 anos.
Hari bol!
Atenciosamente,
Mahesvara Caitanya Das (JPS)
Muito obrigado a todos os participantes sobre o tema. Hare Krsna !!!
Todas as glórias a Srila Prabhupada !!!
Conversa com Srila Prabhupada em 05/09/1973:
"Embaixador: Porque temos de ser ... Nós não devemos ser mal interpretados. Como governo, não devemos aceitar uma política muito forte sobre qualquer religião em particular, mesmo que seja a religião da maioria do povo.
Prabhupada: Não, não, não. É dever do governo ... Estado laico significa neutro para qualquer tipo de religião. Mas é dever do governo ver que as pessoas são religiosas. Não que "Porque o governo é secular, deixa que as pessoas vão para o inferno."
Embaixador: Não, isso é verdade.
Prabhupada: Sim. Se você é muçulmano, e, é meu dever, como governo ver que você está realmente agindo como um muçulmano. Se você é um hindu, é dever do governo ver que você está agindo como um hindu. Se você é um cristão, é dever do governo. Você não pode abandonar a religião.
Dharmena hinah pasubhih samanah. Se as pessoas se tornam irreligiosas em nome do secularismo, em seguida, elas são simplesmente animais. Por isso, é dever do governo ver que os cidadãos não estão a tornar-se animais.
Ele pode professar um tipo de religião. Isso não importa. Mas ele deve ser religioso. Isto é o Estado secular. Não que Estado laico significa que o governo é insensível, "Deixe as pessoas se tornarem cães e gatos, sem religião. O Governo não se importa." Isso não é um bom governo. O que você acha?"
Esta é a concepção de Estado secular ou laico de Srila Prabhupada e da Cultura Védica.
Este é um Estado semi laico porque o Estado e governantes apoiam e incentivam a religião. Mas apoiam e incentivam TODAS as religiões e não somente a maioritária.
"Deus seja louvado" -
Aleluia !!!
Amém !!!
Esta expressão "Deus seja louvado" é marcadamente cristã.
Se os governantes e Estado brasileiro seguissem uma semi laicidade que respeitasse todas as religiões e não somente a maioritária, eles deveriam fazer uma reunião com todos os líderes religiosos de TODAS as vertentes religiosas (SEM EXCEPÇÃO) para encontrar uma expressão a ser utilizada nas notas do REAL que fosse comum a todas.
Neste ponto alguém poderia perguntar-se: "Mas e os ateístas, não tem vez?"
Há um provérbio muito conhecido: "Não é possível agradar gregos e troianos".
E realmente não é possível.
Os governantes e Estado devem satisfazer a maioria e respeitar a minoria.
Os ateístas são minoria no Brasil (7,5%). Podem continuar a ser ateístas mas também têm que aceitar medidas impopulares para eles.
Por exemplo, cá em Portugal o Partido Monárquico é minoria. Eles querem mudar todo o sistema de Estado.
Eles são minoria e nem tem representação no Parlamento português. São respeitados e podem continuar com sua ideologia, mas tem que aceitar a forma de governo e estrutura de Estado da maioria.
Claro que as minorias sempre tentarão utilizar-se de lobbys (Lobby (do inglês lobby, ante-sala, corredor) é o nome que se dá à actividade de pressão de grupos, ostensiva ou velada, com o objectivo de interferir directamente nas decisões do poder público, em especial do Legislativo, em favor de interesses privados para fazer valer seus interesses), mas de um modo geral, as minorias tem que acatar as decisões da maioria. Prova disto é que apesar do lobby ateísta para remover a expressão "Deus seja louvado" do REAL, esta se manteve por decisão judicial.
Então, novamente:
Os governantes e Estado devem satisfazer a maioria e respeitar a minoria.
Desta forma podemos ver que existem diferentes formas de estrutura de Estado:
Estado ateísta - um Estado ateu ou Estado ateísta é a rejeição de todas as formas de religião por um Estado em favor do ateísmo, habitualmente através da supressão da liberdade de expressão e religiosa. (Ex: marxismo)
Estado teocrático totalitário - Um Estado onde o próprio Estado está unido a religião maioritária e suprime todas as demais vertentes religiosas e o ateísmo. (Ex: religiões Abrahamicas - Judaísmo. Cristianismo e Islamismo)
Estado semi laico - Quando o Estado promove e incentiva a Religião, mas de um modo geral sem promover somente uma (a maioritária). Respeita a minoria dos ateístas e seus direitos, mas é marcadamente um Estado religioso (porque a maioria das pessoas o são).
Estado semi laico camuflado - supostamente deveria apoiar todas as vertentes religiosas, mas favorece uma religião em detrimento de outras. Respeita a minoria dos ateístas e seus direitos, mas é marcadamente um Estado religioso (porque a maioria das pessoas o são).
Estado laico - completamente neutro em questões religiosas.
Vosso servo
Prahladesh Dasa Adhikari
Dezembro - 2012