Por Sriman Satyaraja Prabhu
“De acordo com o ponto de vista Vaishnava, ou consciência de Krishna, a energia feminina divina (shakti) pressupõe uma fonte de energia divina (shaktiman). Assim, como se evidencia nas várias tradições Vaishnavas, a Deusa sempre tem uma contraparte masculina. Sita relaciona-se com Rama; Laksmi corresponde a Narayana; Radha com Seu Krishna. Como Krishna é a fonte de todas as manifestações de Deus, Sua consorte é a fonte de todas as shaktis, ou energias. Portanto, Ela é a Deusa original”.
“O Vaishnavismo pode ser entendido como um tipo de shaktismo, no qual purna-shakti, ou a forma mais completa da energia feminina divina, é reverenciada como o aspecto principal da divindade, eclipsando até mesmo o Supremo masculino sob alguns aspectos. Por exemplo, no Shrivaishnavismo, Laksmi (uma expansão primária de Sri Radha) é considerada o mediador divino, sem o qual não se pode ter acesso a Narayana. Em nossa tradição da consciência de Krishna, Radha é reconhecida como a Deusa suprema, porque Ela controla Krishna com Seu amor. A perfeição da vida espiritual não pode ser conseguida sem Sua graça”.
“Na literatura Vaishnava tradicional, Krishna é comparado ao sol e Radha ao brilho solar. Ambos existem simultaneamente, mas um provém do outro. Ainda assim, estaríamos errados se disséssemos que o sol existe antes do brilho solar – pois logo que o sol aparece, surge seu brilho. O mais importante é que o sol não tem sentido sem seu brilho, sem calor e luz. Por outro lado, não existiriam calor e luz sem sol. Portanto, o sol e seu brilho coexistem, cada qual sendo igualmente importante para a existência um do outro. Pode-se dizer que são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes.”
“Da mesma forma, a relação entre Radha e Krishna é de identidade inconcebível na diferença. Em essência, ambos são uma entidade única – Deus -, que se manifesta sob a forma de duas pessoas diferentes para que haja troca interpessoal”.
“Deixe-me ler algo sobre isto no Caitanya-caritamrta [Adi-lila 4.95-98]: ‘O Senhor Krishna encanta o mundo, mas Sri Radha encanta até Ele próprio. Portanto, Ela é a Deusa suprema de todos. Sri Radha é o poder pleno e Krishna é o detentor de todo o poder. Os dois não são diferentes, como se evidencia nas escrituras reveladas. Na verdade, ambos são o mesmo, assim como o almíscar e seu perfume são inseparáveis, ou o fogo e seu calor são indistinguíveis. Desta forma, Radha e Krishna são um, embora tenham assumido duas formas para desfrutar de uma relação.’”
“Apesar disto, Krishna ainda é a fonte. Ele predomina.”
“Apenas em certo sentido, acrescentei. “Em termos de tattva, ou ‘verdade filosófica’, Ele predomina. Mas em termos de lila, ou “atividade amorosa de Deus’, Radha predomina sobre Krishna. E lila é considerada mais importante do que tattva.”