sábado, 17 de janeiro de 2009

Sri Krsna e o Dharma

Dharma, ou os códigos religiosos, são estabelecidos pessoalmente por Deus. Isto é declarado por Yamaraja, Dharmaraja, o executor dessas leis: “dharman tu saksat bhagavat pranitam – princípios religiosos verdadeiros são decretados pessoalmente pela Suprema Personalidade de Deus”. Ninguém mais – nem mesmo os mais elevados semideuses completamente situados no modo da bondade, o que dizer de seres humanos falíveis – pode manufaturar princípios religiosos (SB 6.3.19). Desta forma, Krsna é o estabelecedor do dharma.

Isso é natural, pois somente os princípios estabelecidos pela Suprema Personalidade de Deus, Krsna, podem ser infalíveis e aplicáveis a todos, universalmente. Ideologias manufaturadas e regras legisladas por pessoas imperfeitas ou por opinião coletiva são certas de serem defectivas e tendenciosas e não podem beneficiar todas as entidades vivas em todos os tempos. Assim, princípios religiosos verdadeiros são aqueles dados pelo próprio Senhor na forma das escrituras Védicas. Os Vedas são de composição não-humana, são “apauruseya”, manifestos diretamente da respiração do Senhor Supremo.

Krsna também estabelece no Bhagavad-gita que Ele vem para restabelecer os princípios religiosos: “Quando quer que haja declínio dos princípios religiosos [dharma] e um crescimento predominante de irreligião [adharma], Eu apareço dentro deste mundo para restabelecer os princípios religiosos” (Bg. 4.7-8).

Os códigos do dharma são muitíssimo intrincados, e, algumas vezes, até parecem contraditórios e irreconciliáveis. O que parece ser bom como dharma para uma pessoa ou uma circunstância em particular pode revelar-se iníquo em uma situação diferente. Contudo, sabendo que o dharma são as leis de Deus, também podemos entender que o propósito último do dharma é satisfazer a Krsna, e isto se torna a base para a averiguação do que é dharma e para a reconciliação de diferenças.

Este é o veredicto apresentado por Suta Gosvami quando requisitado pela assembléia de sábios a bondosamente dizer, de um modo facilmente compreensível, o princípio religioso mais elevado e a essência de todas as escrituras. Suta Gosvami responde prontamente, sem nenhuma hesitação ou ambigüidade, que “a ocupação suprema [para-dharma] para toda a humanidade é aquela pela qual os homens podem obter o serviço devocional amoroso imotivado e ininterrupto ao Senhor transcendente” e que “a perfeição mais elevada da execução do dever ocupacional pessoal [dharma] é satisfazer à Personalidade de Deus – samsiddhir hari tosanam”. (Srimad-Bhagavatam 1.2.6 e 13)

Freqüentemente parece haver muita causa para perplexidade quanto a qual deve ser o padrão de dharma para um contexto ou circunstância em particular. Este é o cenário no qual o Bhagavad-gita é falado em resposta ao desnorteamento de Arjuna em relação ao seu verdadeiro dever, ou dharma, e à sua subseqüente rendição a Krsna como discípulo. O direcionamento conclusivo de Krsna para Arjuna foi “sarva dharman parityajya mam ekam saranam vraja”, abandonar todas as outras variedades subordinadas de dharma e render-se exclusivamente a Ele.

Em vários momentos; aos desinformados, parece que, no curso de Seus passatempos, Krsna está violando ou induzindo outros a violarem os princípios da retidão – o que aqueles destituídos de uma profunda compreensão da posição transcendental de Krsna vêem como algo extremamente difícil de se entender. Um exemplo recorrente é o de Krsna encorajando Maharaja Yudhisthira a falar uma mentira a fim de dominar Dronacarya. Krsna, entretanto, está estabelecendo através dessas passagens que a verdadeira moralidade e o dharma mais elevado é permanecer fiel a Krsna e comprazer-Lhe – esse é o verdadeiro critério e a base Absoluta sobre a qual o curso correto da ação deve ser decidido em todas as circunstâncias.

Em outras palavras, virtude por virtude, sem a preocupação de agradar a Krsna, não é benéfica. Há exemplos de asuras, como Ravana e Jarasandha, observando regulações Védicas, respeitando brahmanas, dando caridade liberalmente, etc. No entanto, porque eram hostis a Krsna, a meta última e o abrigo de todos os princípios religiosos, sua dita adesão ao dharma não foi de nenhuma utilidade relevante.. Por outro lado; em função de darem prazer a Krsna – mesmo que isso signifique transgredir códigos éticos convencionais, como quando Yudhisthira falou uma inverdade ou quando as gopis e esposas dos brahmanas saíram de casa para encontrar Krsna – suas ações são consideradas o dharma mais elevado.

(É válida, todavia, a observação de que estes não se destinam a encorajar comportamentos licenciosos/irreligiosos em nome do serviço a Krsna, senão que são exemplos excepcionais para ilustrar um princípio superior; ao passo que, no curso normal da vida, os devotos de Krsna permanecem fiéis à conduta teísta mais elevada, sob a orientação de devotos santos, mahajanas muitíssimo versados na aplicação das conclusões escriturais de acordo com tempo, lugar e circunstância, com o intuito de dar prazer a Krsna).

SS Romapada Swami